UM POR UM
A prestação da selecção portuguesa no Mundial do Brasil foi
muito má, como toda a gente reconhece. As responsabilidades têm recaído quase
inteiramente sobre a equipa técnica e sobre a estrutura federativa, sem dúvida
os principais culpados, mas os jogadores também não estão isentos de culpas.
Será por isso interessante analisar uma por uma a prestação
de todos os que se exibiram no Brasil. Vinte e um ao todo, já que dos vinte e
três seleccionados apenas Rafa e Neto não jogaram sequer um minuto.
Assim, temos:
Rui Patrício – Jogou contra a Alemanha, no jogo
inaugural, e a partir desse jogo foi dado como lesionado. E dizemos dado como
lesionado porque ninguém durante a partida vislumbrou o menor indício de lesão
do guarda-redes português. Nesse jogo a prestação de Rui Patrício foi
simplesmente deplorável, como aliás de toda a defesa. Mal o jogo tinha
começado, já Rui Patrício estava a colocar a bola nos pés de Khedira com a
baliza completamente desguarnecida. Só por falha de pontaria do médio germânico
a Alemanha não fez o primeiro golo logo nos minutos iniciais. A intranquilidade
do guarda-redes manteve-se durante toda a partida, tendo na segunda parte
repetido o erro da primeira, do qual haveria de resultar o quarto golo da
Alemanha. Considerando que durante a fase de apuramento Rui Patrício colocou a
equipa em sérias dificuldades (Israel e Azerbaijão), a ponto de ter
comprometido a sua presença no Brasil, só mesmo por teimosia de Paulo Bento
Patrício poderá manter a titularidade.
Beto – Fez o segundo jogo contra os
Estados Unidos e parte do terceiro contra o Gana. Não fez nada de especial, mas
também não cometeu nenhum erro. Os golos que sofreu foram mais por culpa dos
médios ou da defesa do que propriamente sua. Enfim, uma participação condizente
com o seu valor…que é médio. Apesar de tudo esteve melhor na baliza do que a
falar em nome da selecção. De facto, somente uma completa ausência de respeito
pelos adeptos o pode ter levado a dizer que os jogadores não tinham de se
envergonhar daquilo que fizeram…
Eduardo - Jogou uns escassos minutos no último
jogo por lesão (mais uma) de Beto. Apenas repôs a bola em jogo por duas vezes.
João Pereira – Começou o Mundial da pior maneira,
cometendo nos minutos iniciais um penalty contra a Alemanha por derrube de
Müller. Depois foi jogando ao seu nível…que é baixo, acabando por ser
substituído no último jogo. Diga-se, todavia, em abono da verdade que, com
excepção do já referido penalty do qual resultou o primeiro golo da Alemanha,
não foi pelo lado dele que se desenvolveram as jogadas das quais resultaram os
restantes seis golos que Portugal sofreu. De positivo, um centro na primeira
parte do jogo contra os Estados Unidos que Cristiano Ronaldo desperdiçou infantilmente.
Pepe – Uma participação para esquecer.
Responsável juntamente com Bruno Alves pelo segundo golo da Alemanha e depois a
expulsão por volta da meia hora de jogo marcaram a presença de um jogador que
não estava em condições físicas para participar no Mundial, o que agrava
consideravelmente a sua propensão para a delinquência dentro do rectângulo de
jogo. Responsabilidade do seleccionador que tem obrigação de conhecer o
cadastro de Pepe e as condições em que são praticados a maior parte dos actos
violentos que ditaram as muitas expulsões e penalizações que tem sofrido ao
longa da carreia. Voltou a jogar no último jogo contra os Estados Unidos não
tendo feito nada de especial nem pelo lado positivo nem pelo negativo. O facto
de não pedido desculpa aos portugueses e aos colegas (publicamente) deixa
antever a forte probabilidade de voltar a reincidir. Igualmente de ponderar a
continuidade da sua presença na selecção tanto mais que com a idade e a natural
perda de faculdades físicas é de esperar um aumento de acções violentas ou
anti-desportivas fortemente prejudiciais à equipa.
Bruno Alves – Mais um jogador que não estava
fisicamente em condições de participar no Mundial. No jogo contra a Alemanha
foi responsável juntamente com Pepe pelo segundo golo e inteiramente
responsável pelo terceiro. Na partida contra os Estados Unidos é responsável
pelo segundo golo americano por ter levado uma eternidade a levantar-se,
colocando em jogo Dempsey. Enfim, é um dos que deveria dizer adeus à selecção
no Brasil já que tem vindo a revelar uma quebra continuada de forma,
consideravelmente agravada pelas fracas prestações no Mundial.
Ricardo Costa – O melhor da defesa. Jogou meio
jogo contra a Alemanha, entrando com o resultado em 3-0, e foi titular contra
os Estados Unidos. Não teve responsabilidades nos golos sofridos.
Inexplicavelmente, Paulo Bento retirou-lhe a titularidade no jogo contra o
Gana. Foi também o jogador que se apresentou fisicamente em melhores condições.
Fábio Coentrão – Fez pouco mais que meio jogo
contra a Alemanha. Lesionou-se, foi substituído e nunca mais jogou. Estava mal
fisicamente e mesmo que não se tivesse lesionado não é crível que estivesse em
condições de repetir as exibições do Mundial da África do Sul. No jogo contra a Alemanha poderia ter marcado
logo no início do jogo, se não fosse a dependência de Ronaldo. Em vez de
rematar passou a bola a Ronaldo…que a deixou escapar pela linha de fundo.
André Almeida – Jogou pouco menos que meio jogo
contra a Alemanha e outro meio contra os Estados Unidos, tendo sido substituído
por lesão. Também não se apresentou nas melhores condições físicas. Chamado a
substituir Coentrão como defesa esquerdo, nunca comprometeu apesar de ocupar o
posto como substituto de recurso e de Ronaldo não auxiliar rigorosamente nada
nas tarefas defensivas. Nenhum golo entrou ou se desenvolveu pelo seu lado.
Depois da sua saída foi pelo lado esquerdo que se desenvolveram as jogadas de
golo dos Estados Unidos. Nas tarefas defensivas cumpriu.
Miguel Veloso – Começou por jogar a médio contra a
Alemanha, tendo depois recuado para defesa esquerdo a partir do momento em que
André Almeida se lesionou no jogo contra os Estados Unidos. Como médio a sua
prestação foi medíocre como medíocre foi a dos seus colegas de sector no jogo
contra a Alemanha. Como defesa esquerdo defendeu mal, tentando compensar as
suas deficiências defensivas com incursões atacantes pelo respectivo flanco. Fez
mais de uma dezena de centros, tendo sido de dois centros falhados (contra os
Estados Unidos e contra o Gana) que resultaram dois golos de Portugal. No
cômputo geral, exibição medíocre.
João Moutinho – Moutinho está a léguas do jogador
que foi na penúltima época que passou no Porto. Exibiu-se na selecção ao mesmo nível da época que fez no Mónaco. Ou seja, mediocremente. Falhou muitos passes, tendo de
um deles resultado o golo do Gana (fatal para as aspirações da equipa
portuguesa), e nunca foi o elemento do meio campo que a selecção precisava.
Disse em entrevista, a propósito da sua prestação, que “não tinha de provar
nada a ninguém”. É lamentável que assim seja, pois somente essa ausência de
avaliação permanente pode justificar a titularidade que Paulo Bento lhe
concedeu e que ele esteve longe de justificar.
Raul Meireles – Apresentou-se em más condições
físicas, parecendo cansado e desmotivado. Jogou apenas os dois primeiros jogos
não tendo em nenhum deles justificado a chamada à selecção, não obstante o seu
passado na equipa. Contribuiu com a sua fraca prestação para o descalabro do
meio campo português.
William Carvalho – Tendo aparecido como uma espécie
de “messias” ou “salvador” da selecção portuguesa, mais por imposição das
contingências do jogo (a multiplicidade de lesões) do que por opção de Paulo
Bento, o jovem jogador do Sporting alinhou meio tempo contra os Estados Unidos e
a tempo inteiro contra o Gana. Apesar de ter sido bem melhor que qualquer um dos
tradicionais ocupantes do sector, William Carvalho tem limitações várias, umas
eventualmente superáveis, outras não. É lento, não é criativo e tem dificuldade
no passe de risco – o passe que distingue o médio de classe – por isso nunca o
faz, preferindo o passe para o lado e para trás. Mas desarma bem e tem algum
sentido posicional, embora neste aspecto precise ainda de aprender muito. Não é
a estrela que os sportinguistas apregoam, mas tem lugar indiscutivelmente
na selecção.
Ruben Amorim – Chamado à titularidade no último
jogo, Ruben Amorim alinhou a médio, sobre o lado esquerdo (onde não costuma
jogar), e depois a defesa direito em substituição de João Pereira. No meio campo,
Amorim deu outra alegria ao jogo da selecção como o seu inteligente
posicionamento e passes clarividentes. Na defesa cumpriu. Deveria ter sido
titular em todos os jogos.
Nani – Tendo jogado muito pouco durante a
época, duvidava-se que Nani tivesse o ritmo necessário para a competição. Esteve
melhor do que habitualmente, principalmente no início dos dois primeiros jogos.
Depois, na partida contra o Gana, decaiu, principalmente quando passou a ocupar
as zonas mais interiores do relvado. Marcou um golo contra os Estados Unidos,
acabando por ter uma prestação meritória.
Varela – Nunca alinhou de início, tendo
apenas participado nos jogos contra os Estados Unidos e o Gana. Para a história
fica o golo do empate contra os americanos no último segundo do jogo – o golo
que impediu a desqualificação da selecção portuguesa logo no segundo jogo. Não
fez muito mais…mas também não lhe deram oportunidade para o fazer.
Hugo Almeida - Lesionou-se no início do jogo
contra a Alemanha, depois de ter tido uma oportunidade em que poderia ter feito
mais do que fez. Foi ao Brasil para estar em campo cerca de 15 minutos.
Hélder Postiga – Foi titular contra os Estados
Unidos, não tocou na bola e lesionou-se nos minutos iniciais. Inadmissível a
convocatória de dois pontas de lança sem condições físicas para jogarem!
Eder – O jovem avançado do Braga acabou
por alinhar nos três jogos em virtude das lesões de Almeida e Postiga. Teve
tempo mais do que suficiente para mostrar o seu valor. Tem limitações várias e
a equipa nada ganhou em o ter na posição de centro-avante. Tem de aguardar
melhores dias.
Vieirinha – Entrou por saída de João Pereira na
partida contra o Gana no decorrer da segunda parte. Animou o jogo da equipa e
pareceu estar em boas condições físicas não tendo merecido, apesar disso, a
preferência de Paulo Bento.
Cristiano Ronaldo – Decepcionante. Num grande palco
onde os grandes artistas se exibem, Ronaldo não compareceu. É a terceira
participação sem história do badalado jogador português numa fase final do Mundial.
Falhou um golo contra a Alemanha quando o resultado ainda estava empatado a
zero. Fez uma exibição medíocre contra os Estados Unidos. Falhou três ou quatro
golos contra o Gana. Remata muito, mas com pouco ou nenhuma eficácia. Em três
participações no Mundial tem três golos. Um em cada. O primeiro de penalty contra o Irão; o segundo,
ridículo, contra a Coreia do Norte; o terceiro contra o Gana. Porventura, no
melhor Mundial de sempre, onde as grandes estrelas brilham intensamente
(Robben, Messi, Müller, James, Neymar e tantos, tantos outros), Ronaldo não apareceu.
Se a jogar esteve simplesmente vulgar, a falar a sua prestação ainda foi pior.
As palavras que proferiu após o jogo contra os Estados Unidos são indignas de
um capitão. Ronaldo que é em grande medida um produto do marketing marcou seguramente o fim da sua fase ascensional nesta
sua passagem pelo Mundial do Brasil. Se tinha pretensões a ficar no top ten da história do futebol, pode
esquecer…
Em resumo, a equipa portuguesa foi uma das piores do torneio
como agora se está tornando evidente com o avançar da prova.
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