quinta-feira, 3 de julho de 2014

OS JOGADORES PORTUGUESES NO MUNDIAL DO BRASIL


 

UM POR UM

A prestação da selecção portuguesa no Mundial do Brasil foi muito má, como toda a gente reconhece. As responsabilidades têm recaído quase inteiramente sobre a equipa técnica e sobre a estrutura federativa, sem dúvida os principais culpados, mas os jogadores também não estão isentos de culpas.

Será por isso interessante analisar uma por uma a prestação de todos os que se exibiram no Brasil. Vinte e um ao todo, já que dos vinte e três seleccionados apenas Rafa e Neto não jogaram sequer um minuto.

Assim, temos:

Rui Patrício – Jogou contra a Alemanha, no jogo inaugural, e a partir desse jogo foi dado como lesionado. E dizemos dado como lesionado porque ninguém durante a partida vislumbrou o menor indício de lesão do guarda-redes português. Nesse jogo a prestação de Rui Patrício foi simplesmente deplorável, como aliás de toda a defesa. Mal o jogo tinha começado, já Rui Patrício estava a colocar a bola nos pés de Khedira com a baliza completamente desguarnecida. Só por falha de pontaria do médio germânico a Alemanha não fez o primeiro golo logo nos minutos iniciais. A intranquilidade do guarda-redes manteve-se durante toda a partida, tendo na segunda parte repetido o erro da primeira, do qual haveria de resultar o quarto golo da Alemanha. Considerando que durante a fase de apuramento Rui Patrício colocou a equipa em sérias dificuldades (Israel e Azerbaijão), a ponto de ter comprometido a sua presença no Brasil, só mesmo por teimosia de Paulo Bento Patrício poderá manter a titularidade.  

Beto – Fez o segundo jogo contra os Estados Unidos e parte do terceiro contra o Gana. Não fez nada de especial, mas também não cometeu nenhum erro. Os golos que sofreu foram mais por culpa dos médios ou da defesa do que propriamente sua. Enfim, uma participação condizente com o seu valor…que é médio. Apesar de tudo esteve melhor na baliza do que a falar em nome da selecção. De facto, somente uma completa ausência de respeito pelos adeptos o pode ter levado a dizer que os jogadores não tinham de se envergonhar daquilo que fizeram…

Eduardo - Jogou uns escassos minutos no último jogo por lesão (mais uma) de Beto. Apenas repôs a bola em jogo por duas vezes.

João Pereira – Começou o Mundial da pior maneira, cometendo nos minutos iniciais um penalty contra a Alemanha por derrube de Müller. Depois foi jogando ao seu nível…que é baixo, acabando por ser substituído no último jogo. Diga-se, todavia, em abono da verdade que, com excepção do já referido penalty do qual resultou o primeiro golo da Alemanha, não foi pelo lado dele que se desenvolveram as jogadas das quais resultaram os restantes seis golos que Portugal sofreu. De positivo, um centro na primeira parte do jogo contra os Estados Unidos que Cristiano Ronaldo desperdiçou infantilmente.

Pepe – Uma participação para esquecer. Responsável juntamente com Bruno Alves pelo segundo golo da Alemanha e depois a expulsão por volta da meia hora de jogo marcaram a presença de um jogador que não estava em condições físicas para participar no Mundial, o que agrava consideravelmente a sua propensão para a delinquência dentro do rectângulo de jogo. Responsabilidade do seleccionador que tem obrigação de conhecer o cadastro de Pepe e as condições em que são praticados a maior parte dos actos violentos que ditaram as muitas expulsões e penalizações que tem sofrido ao longa da carreia. Voltou a jogar no último jogo contra os Estados Unidos não tendo feito nada de especial nem pelo lado positivo nem pelo negativo. O facto de não pedido desculpa aos portugueses e aos colegas (publicamente) deixa antever a forte probabilidade de voltar a reincidir. Igualmente de ponderar a continuidade da sua presença na selecção tanto mais que com a idade e a natural perda de faculdades físicas é de esperar um aumento de acções violentas ou anti-desportivas fortemente prejudiciais à equipa.

Bruno Alves – Mais um jogador que não estava fisicamente em condições de participar no Mundial. No jogo contra a Alemanha foi responsável juntamente com Pepe pelo segundo golo e inteiramente responsável pelo terceiro. Na partida contra os Estados Unidos é responsável pelo segundo golo americano por ter levado uma eternidade a levantar-se, colocando em jogo Dempsey. Enfim, é um dos que deveria dizer adeus à selecção no Brasil já que tem vindo a revelar uma quebra continuada de forma, consideravelmente agravada pelas fracas prestações no Mundial.

Ricardo Costa – O melhor da defesa. Jogou meio jogo contra a Alemanha, entrando com o resultado em 3-0, e foi titular contra os Estados Unidos. Não teve responsabilidades nos golos sofridos. Inexplicavelmente, Paulo Bento retirou-lhe a titularidade no jogo contra o Gana. Foi também o jogador que se apresentou fisicamente em melhores condições.

Fábio Coentrão – Fez pouco mais que meio jogo contra a Alemanha. Lesionou-se, foi substituído e nunca mais jogou. Estava mal fisicamente e mesmo que não se tivesse lesionado não é crível que estivesse em condições de repetir as exibições do Mundial da África do Sul.  No jogo contra a Alemanha poderia ter marcado logo no início do jogo, se não fosse a dependência de Ronaldo. Em vez de rematar passou a bola a Ronaldo…que a deixou escapar pela linha de fundo.

André Almeida – Jogou pouco menos que meio jogo contra a Alemanha e outro meio contra os Estados Unidos, tendo sido substituído por lesão. Também não se apresentou nas melhores condições físicas. Chamado a substituir Coentrão como defesa esquerdo, nunca comprometeu apesar de ocupar o posto como substituto de recurso e de Ronaldo não auxiliar rigorosamente nada nas tarefas defensivas. Nenhum golo entrou ou se desenvolveu pelo seu lado. Depois da sua saída foi pelo lado esquerdo que se desenvolveram as jogadas de golo dos Estados Unidos. Nas tarefas defensivas cumpriu.

Miguel Veloso – Começou por jogar a médio contra a Alemanha, tendo depois recuado para defesa esquerdo a partir do momento em que André Almeida se lesionou no jogo contra os Estados Unidos. Como médio a sua prestação foi medíocre como medíocre foi a dos seus colegas de sector no jogo contra a Alemanha. Como defesa esquerdo defendeu mal, tentando compensar as suas deficiências defensivas com incursões atacantes pelo respectivo flanco. Fez mais de uma dezena de centros, tendo sido de dois centros falhados (contra os Estados Unidos e contra o Gana) que resultaram dois golos de Portugal. No cômputo geral, exibição medíocre.

João Moutinho – Moutinho está a léguas do jogador que foi na penúltima época que passou no Porto. Exibiu-se na selecção ao mesmo nível da época que fez no Mónaco. Ou seja, mediocremente. Falhou muitos passes, tendo de um deles resultado o golo do Gana (fatal para as aspirações da equipa portuguesa), e nunca foi o elemento do meio campo que a selecção precisava. Disse em entrevista, a propósito da sua prestação, que “não tinha de provar nada a ninguém”. É lamentável que assim seja, pois somente essa ausência de avaliação permanente pode justificar a titularidade que Paulo Bento lhe concedeu e que ele esteve longe de justificar.

Raul Meireles – Apresentou-se em más condições físicas, parecendo cansado e desmotivado. Jogou apenas os dois primeiros jogos não tendo em nenhum deles justificado a chamada à selecção, não obstante o seu passado na equipa. Contribuiu com a sua fraca prestação para o descalabro do meio campo português.

William Carvalho – Tendo aparecido como uma espécie de “messias” ou “salvador” da selecção portuguesa, mais por imposição das contingências do jogo (a multiplicidade de lesões) do que por opção de Paulo Bento, o jovem jogador do Sporting alinhou meio tempo contra os Estados Unidos e a tempo inteiro contra o Gana. Apesar de ter sido bem melhor que qualquer um dos tradicionais ocupantes do sector, William Carvalho tem limitações várias, umas eventualmente superáveis, outras não. É lento, não é criativo e tem dificuldade no passe de risco – o passe que distingue o médio de classe – por isso nunca o faz, preferindo o passe para o lado e para trás. Mas desarma bem e tem algum sentido posicional, embora neste aspecto precise ainda de aprender muito. Não é a estrela que os sportinguistas apregoam, mas tem lugar indiscutivelmente na selecção.

Ruben Amorim – Chamado à titularidade no último jogo, Ruben Amorim alinhou a médio, sobre o lado esquerdo (onde não costuma jogar), e depois a defesa direito em substituição de João Pereira. No meio campo, Amorim deu outra alegria ao jogo da selecção como o seu inteligente posicionamento e passes clarividentes. Na defesa cumpriu. Deveria ter sido titular em todos os jogos.

Nani – Tendo jogado muito pouco durante a época, duvidava-se que Nani tivesse o ritmo necessário para a competição. Esteve melhor do que habitualmente, principalmente no início dos dois primeiros jogos. Depois, na partida contra o Gana, decaiu, principalmente quando passou a ocupar as zonas mais interiores do relvado. Marcou um golo contra os Estados Unidos, acabando por ter uma prestação meritória.

Varela – Nunca alinhou de início, tendo apenas participado nos jogos contra os Estados Unidos e o Gana. Para a história fica o golo do empate contra os americanos no último segundo do jogo – o golo que impediu a desqualificação da selecção portuguesa logo no segundo jogo. Não fez muito mais…mas também não lhe deram oportunidade para o fazer.

Hugo Almeida - Lesionou-se no início do jogo contra a Alemanha, depois de ter tido uma oportunidade em que poderia ter feito mais do que fez. Foi ao Brasil para estar em campo cerca de 15 minutos.

Hélder Postiga – Foi titular contra os Estados Unidos, não tocou na bola e lesionou-se nos minutos iniciais. Inadmissível a convocatória de dois pontas de lança sem condições físicas para jogarem!

Eder – O jovem avançado do Braga acabou por alinhar nos três jogos em virtude das lesões de Almeida e Postiga. Teve tempo mais do que suficiente para mostrar o seu valor. Tem limitações várias e a equipa nada ganhou em o ter na posição de centro-avante. Tem de aguardar melhores dias.

Vieirinha – Entrou por saída de João Pereira na partida contra o Gana no decorrer da segunda parte. Animou o jogo da equipa e pareceu estar em boas condições físicas não tendo merecido, apesar disso, a preferência de Paulo Bento.

Cristiano Ronaldo – Decepcionante. Num grande palco onde os grandes artistas se exibem, Ronaldo não compareceu. É a terceira participação sem história do badalado jogador português numa fase final do Mundial. Falhou um golo contra a Alemanha quando o resultado ainda estava empatado a zero. Fez uma exibição medíocre contra os Estados Unidos. Falhou três ou quatro golos contra o Gana. Remata muito, mas com pouco ou nenhuma eficácia. Em três participações no Mundial tem três golos. Um em cada. O primeiro de penalty contra o Irão; o segundo, ridículo, contra a Coreia do Norte; o terceiro contra o Gana. Porventura, no melhor Mundial de sempre, onde as grandes estrelas brilham intensamente (Robben, Messi, Müller, James, Neymar e tantos, tantos outros), Ronaldo não apareceu. Se a jogar esteve simplesmente vulgar, a falar a sua prestação ainda foi pior. As palavras que proferiu após o jogo contra os Estados Unidos são indignas de um capitão. Ronaldo que é em grande medida um produto do marketing marcou seguramente o fim da sua fase ascensional nesta sua passagem pelo Mundial do Brasil. Se tinha pretensões a ficar no top ten da história do futebol, pode esquecer…  

 

Em resumo, a equipa portuguesa foi uma das piores do torneio como agora se está tornando evidente com o avançar da prova.

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