ALEMANHA, BRASIL,
ARGENTINA E HOLANDA NAS MEIAS
Perdeu espectacularidade a passagem dos oitavos para os
quartos-de-final. O Mundial que até ontem tinha sido muito provavelmente o
melhor de sempre, ofereceu-nos nos quartos-de-final jogos pouco emocionantes,
calculistas e sem grandes motivos de interesse.
O primeiro dos quatro, Alemanha-França, esteve muito longe de
reeditar os grandes duelos do passado. A Alemanha marcou de cabeça, por
Hummels, na sequência de um livre apontado por Kroos logo no início do jogo e
depois foi aguentando o resultado até ao fim, tendo podido, pelo menos por duas
vezes, ampliar a vantagem se Schürrle tivesse estado minimamente inspirado. A
França esteve à beira de marcar no primeiro tempo por Benzema e também no
último minuto pelo mesmo protagonista se não se desse o caso de na baliza da
Alemanha estar um dos melhores guarda-redes de todos os tempos – Manuel Neuer.
A França tem uma excelente equipa, com futuro, com jogadores
de grande categoria, mas a Alemanha prima como sempre pelo colectivismo, apesar
de ter na suas fileiras os dois grandes jogadores deste Mundial – Manuel Neuer
de que já falámos e Müller, um jogador completo: ataca, defende, passa e marca
e além de tudo isso é imprevisível tanto no que refere ao que pode fazer como
ao espaço que ocupa. Um jogador quase impossível de marcar. Foi ele que
proporcionou a Schürles as oportunidades que este falhou. Além destes dois
extraordinários jogadores, Neuer e Müller, também Hummels ocupa um lugar de
eleição neste Mundial, seguramente o melhor central. Özil tem estado abaixo do
seu melhor nível e Khedira também, apesar de terem sido quase sempre
titulares.
O Brasil-Colômbia do qual tanto se esperava não primou pela
espectacularidade mas antes pela excessiva agressividade. O Brasil
entrou em campo com a manifesta intenção de não permitir por qualquer meio que
os grandes nomes da Colômbia pudessem exibir o seu brilhantismo, principalmente James,
disso se encarregando Fernandinho, Maicon, Paulinho e de uma maneira geral
todos os que tinham de disputar bolas divididas com eles. A Colômbia parece ter ficado
um pouco surpreendida com a agressividade brasileira e só tarde começou a
reagir, pagando na mesma moeda e depois de já estar a perder. Vítima dessa
guerra acabou por ser Neymar que abandonou o campo e o Mundial com uma vértebra
fracturada.
O Brasil começou por ter a sorte de marcar cedo num canto,
aproveitando Thiago Silva com o joelho uma bola que sobrevoou várias cabeças e
o encontrou desmarcado sem oposição à frente da baliza. Foi só empurrar. A
Colômbia acusou o golo, demorou a recompor-se e nunca o conseguiu de modo convincente, em parte por Quadrado ter estado muito desinspirado e James muito massacrado
pelos médios e defesas brasileiros.
Na segunda parte David Luiz que vinha jogando com fúria, como
se a sua vida dependesse do resultado daquele encontro, marcou excelentemente
um livre à entrada da área e fez o 2-0. A menos de quinze minutos do fim, a
Colômbia reagiu, criou algum sufoco ao Brasil acabando por fazer um golo de
penalty provocado por Júlio César, porventura desnecessariamente em virtude de haver na
jogada um defesa brasileiro que certamente conjuraria o perigo.
O Brasil terá feito o seu melhor jogo na prova e Colômbia, talvez por causa disso, o seu pior. Por isso, a vitória dos brasileiros não sofre contestação. A vitória no tempo regulamentar trouxe alguma tranquilidade ao Brasil e deu-lhe fundadas esperanças quanto ao que está para vir. A Colômbia, pelo contrário, acabou a chorar dando até a ideia de, no fim do jogo, ainda não ter
percebido o que lhe tinha acontecido. Ela, que havia feito até ontem um Mundial melhor que
o do Brasil e que certamente contava ganhar, parece ter desconhecido que ia
defrontar uma equipa de Scolari. E foi isso o que derrotou a Colômbia.
Para finalizar uma palavra sobre o árbitro, o espanhol
Carballo. Um mau árbitro como tantas vezes se tem visto na Liga espanhola. Não
foi capaz de ter mão no jogo, deixou que em muitas jogadas se estivesse muito
próximo da violência e, tendo subtilmente (às vezes nem tanto) beneficiado o
Brasil, acabou por nem sequer assinalar falta a Zúñiga na jogada que vitimou
Neymar. É certo que Neymar faz muita fita, muito trapezismo, mas naquela jogada
poucas ou nenhumas dúvidas haveria de que foi agredido, voluntariamente ou não,
com uma joelhada nas costas. Em resumo: Carballo ao seu nível …que é baixo.
Como a lesão de Neymar tenderá com o tempo a ser mitificada,
convém que duas coisas fiquem para a História: a primeira, é que Zúñiga tinha por
missão impedir qualquer jogada de contra-ataque iniciada por Neymar na sequência do corner. Portanto, a falta foi voluntária
e intencional, no sentido de fazer colapsar a jogada. Aparentemente, foi uma falta desproporcionada,
porque para conseguir o objectivo em vista não era necessário atingir Neymar com
aquela violência. Isto é claro. Mas também é claro, e essa é a segunda questão
que interessa ter em conta, que a agressividade posta naquela jogada é
consequência do clima de agressividade presente em toda a partida, desde o
princípio ao fim. E quem iniciou esse “estilo de jogo” foram os jogadores brasileiros
que tinham por missão impedir de qualquer jeito as jogadas da Colômbia,
nomeadamente dos seus jogadores mais criativos. Basta dizer que o Brasil fez 30
(!) faltas, muitas delas cometidas sobre James. Infelizmente, o árbitro apenas
exibiu quatro cartões amarelos, dois para cada lado – Thiago Silva e Júlio
César; James Rodriguez e Yepes. E o mais que se poderá dizer é que, com excepção
da falta cometida por Júlio César, os restantes cartões foram exibidos por
faltas incomparavelmente menos graves do que outras que não mereceram qualquer sanção
especial. Em conclusão: o árbitro tem responsabilidades no que se passou, mas o
Brasil semeou ventos e colheu uma tempestade cujas consequências estão ainda
por se conhecer.
Nos jogos de sábado, a Argentina superiorizou-se claramente à
Bélgica, uma Bélgica quase irreconhecível face àquilo que mostrou nos jogos
anteriores. De sublinhar a lesão de Di Maria, absolutamente decisivo, que não
voltando a jogar, como se diz, será uma grande perda para a Argentina já que
ele vinha sendo, porventura até mais que Messi, o grande motor da equipa do
país das pampas. Hoje, porém, a Argentina esteve melhor do que anteriormente, eventualmente
em consequência das alterações introduzidas no meio campo.
No outro jogo, a sensacional Costa Rica obrigou a Holanda a
grandes penalidades que, desta vez, não foram favoráveis aos homens da América
Central. A Holanda foi superior durante quase toda a partida e Robben mais uma
vez inigualável, embora a Costa Rica seja uma equipa extraordinariamente bem
organizada. É muito difícil marcar um golo à Costa Rica, não apenas pela
excelência do seu guarda-redes, Navas, mas também pela excelente organização
defensiva, por isso, quando a Costa Rica fica em vantagem no marcador,
dificilmente perde. Hoje, perdeu nos penalties, tendo-se assistido a uma
novidade de Van Gaal que substitui no último minuto do prolongamento o seu guarda-redes
titular pelo suplente Krull que, defendendo dois penalties, justificou plenamente a aposta do seu treinador.
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