SPORTING PEQUENINO
Se necessário fosse, o jogo da
Madeira contra o Marítimo teria servido para demonstrar que o Benfica tem fibra
de campeão. Jogando em inferioridade numérica desde o 36.º minuto, por expulsão
de Renato Sanches, o Benfica suplantou-se e apresentou um futebol mais atractivo
e eficaz do que quando estava a jogar com onze. E demonstrou ainda, para quem
tivesse dúvidas, que os jogadores que durante a época tão decisivos foram pelos
inúmeros golos que marcaram, como Jonas, podem também ser brilhantes jogadores
de meio campo, equilibrando a equipa e construindo a maior parte das jogadas
decisivas do encontro. Foi isso o que ontem fez Jonas numa demonstração de classe
invulgar. Jonas esqueceu-se que era o goleador máximo do futebol português,
esqueceu-se que estava a lutar pela bota de oiro europeia, ombreando com
Suarez, Ronaldo, Higuain, Lewandowski, Messi e Neymar para se tornar no grande
patrão do meio capo do Benfica, fazendo juntamente com Fejsa, uma exibição
digna de figurar na história do Benfica pelo seu simbolismo e importância.
Jonas demonstrou com a sua atitude que o futebol é antes de mais e acima de
tudo um desporto colectivo e quem não perceber isto não percebe nada.
Vencendo mais uma final, desta
vez contra o Marítimo, o Benfica aproxima-se a passos largos do tricampeonato. Um
Marítimo empenhado em tirar pontos ao Benfica, a ponto de o seu treinador –
Nelo Vingada – ter considerado mais importante para o posicionamento da sua
equipa “roubar” pontos ao Benfica do que tentar jogar de igual para igual contra
um adversário da sua valia – o Estoril, contra o qual na semana passada se deu
ao luxo de não utilizar seis jogadores normalmente titulares para os ter “fresquinhos”
no jogo contra o Benfica e ter também a certeza de que os poderia utilizar por
ausência de qualquer sanção disciplinar. De nada lhe valeu tanto empenhamento,
tanta pertinácia competitiva. Perdeu 2-0 contra dez e até poderia ter perdido
por muitos mais se não tivesse tido a sorte pelo seu lado.
Mas já que estamos a falar do “ardor
competitivo” das equipas que neste fim de campeonato têm defrontado o Benfica,
não pode deixar de registar-se, para que conste e faça parte da história, a
agressividade com que o Vitória Sport Clube (Guimarães) se apresentou na Luz
sob as ordens do treinador Sérgio Conceição. Este treinador que, tanto nesta
profissão como na de jogador, regista um vergonhoso palmarés de indisciplina desportiva
– insultos, agressões e tudo o mais que imaginar se possa – apresentou-se na Luz,
desde os primeiros minutos de jogo, com uma agressividade que não poderia
deixar de ser sancionada, como foi, pela equipa de arbitragem. Tendo estas
sanções, aliás brandas, sido alvo de veemente contestação da sua parte nada
mais natural que a sua expulsão – apenas mais uma a juntar às dez anteriores
que já leva como treinador. Pois este facto banal, sofrido por treinador
arruaceiro, que é useiro e vezeiro em comportamentos incorrectos, foi, pelos
adversários do Benfica – Sporting, mas também Porto –, tido como mais um favor
prestado à equipa da Luz. Chegou-se a um ponto em que a ausência de vergonha
tudo justifica: até a defesa de um inveterado indisciplinado por factos
praticados à frente de toda a gente! O certo é que, não obstante o grande
estímulo que certamente constituiria tirar pontos ao Benfica, o Guimarães saiu
derrotado e sem compensação para o dispêndio de tão grande esforço!
Estímulo que igualmente tinha
estado patente no jogo contra o Setúbal, a ponto de um dos seus jogadores ter
chorado copiosamente a derrota, que seguramente lhe causou uma tristeza muito difícil
de suportar do que as inúmeras derrotas que a equipa tem tido nesta segunda
volta e que comprometem a sua permanência na primeira liga. Estímulo que
igualmente o Rio Ave tinha manifestado, não tanto pelo calor posto na luta, mas
pela obsessão defensiva com que se apresentou a jogar contra o Benfica contrariamente
ao que é o seu habitual padrão de jogo. Estímulo que, pelos vistos, também lhe
faltou para lutar denodadamente por um lugar na Liga Europa contra as equipas que
defrontou imediatamente antes e depois do jogo contra o Benfica.
O Sporting, pelo contrário,
tem-se deparado com adversários “normais”, mesmo quando esses adversários são
os mesmos que poucos dias antes haviam defrontado o Benfica, como foi o caso do
Vitória de Setúbal. Foi um Setúbal mansinho, dócil e muito docinho o que no
sábado passado se apresentou em Alvalade, apesar de o resultado desse jogo ser
importantíssimo para a sua continuidade na divisão principal.
Pois bem, o Sporting ganhou
facilmente e logo os “comunicadores” do Sporting se encarregaram de fazer soar
as trombetas cantando o feito de uma super equipa. Uma equipa como não há, foi
o que eles disseram.
Mas nem uma meia dúzia de horas haviam
passado já o Sporting se tinha encarregado de, pelos seus próprios meios, voltar
a evidenciar a sua enorme pequenez. Desta vez o motivo que ilustra quão
pequenino e mesquinho o Sporting é, imagine-se! é o cartão amarelo mostrado a
Adrien, que o impede, por acumulação, de jogar em Braga! Não se trata desta vez
de contestar um pretenso off side, um
fora de jogo mal tirado, uma expulsão. Não, nada disso. Trata-se desse facto
transcendente capaz de desagregar a “super equipa”, de a deixar completamente à
mercê do adversário, que é a amostragem de um cartão amarelo! Repito: é preciso
ser muito pequenino para fazer deste facto um acontecimento capaz de alterar o
rumo do campeonato. Desenganem-se: para quem vai à frente é absolutamente
irrelevante o resultado do Sporting contra o Braga, como irrelevante é jogar o
Sporting com Adrien ou sem Adrien!
Mas Jesus foi mais longe. Jesus,
destroçado pelas sucessivas derrotas que durante a época foi acumulando, chegou
ao ponto de afirmar no seu jeito rufia que tirou o Slimani do jogo, porque “Já anda nisto há muito tempo” e sabia
muito bem que o árbitro também o queria pôr fora no próximo jogo! A
gravidade da afirmação é evidente. Menos evidente – muito menos – é saber qual
a sua consequência junto dos órgãos de disciplina do futebol português.
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