ATENÇÃO: NÃO HÁ
MILAGRES
Já há dois anos causou estranheza a facilidade com que o
Benfica, de uma assentada, se desfez de vários jovens talentos, alguns deles
sem sequer terem tido possibilidade de demonstrar os seus méritos no clube que
os formou. Todos nos lembramos das transferências de André Gomes, João Cancelo,
Bernardo Silva, Ivan Cavaleiro, entre outros.
Na altura a mensagem que foi passada aos adeptos, sócios e
simpatizantes, foi a de que as propostas eram muito boas e os jovens corriam o
risco de estiolar no Benfica por o treinador não ser muito dado a apostar em
jovens da formação, manifestando preferência por atletas por ele indicados e
posteriormente “formatados” à medida das suas exigências tácticas.
Aparentemente a argumentação era satisfatória, já que o
exemplo colhido nas épocas 2009/2010 até 2014/2015 não era de molde a fazer
crer que esses jovens viessem a ter futuro no Benfica. Todavia, o argumento
começa a perder força mal se percebeu que uma das razões pela qual se não deu
continuidade à presença do dito treinador no clube consistia exactamente na sua
incapacidade para apostar na formação.
De facto, apostando-se na formação nada justifica que um
jovem talento mal desponte seja imediatamente vendido. Isso faz-nos lembrar a incompetência
sportinguista que vendeu dois dos mais valiosos jovens talentos da sua formação
por um preço consideravelmente inferior ao que poderia ter sido arrecadado se
tivessem sido transferidos um pouco mais tarde e tivessem retribuído com o seu
talento vantagens desportivos e financeiras ao clube que os formou.
Ao que parece no Benfica está a passar-se o mesmo. Agora que
o Benfica tem um treinador que aposta na formação como os exemplos de Nelson Semedo,
Gonçalo Guedes, Ederson, Lindelöf, Renato Sanches, Nuno Santos demonstram,
percebe-se mal, ou não se percebe de todo, que esses jogadores sejam
imediatamente vendidos sem sequer terem dado ao clube as contrapartidas
competitivas que a sua classe poderia proporcionar.
Esta política da direcção do Benfica de vender ainda muito “verdes”
jovens da formação para a seguir se endividar na compra de jogadores “maduros”,
além de ser desportivamente uma política suicidária, é também uma política que desmente
com todas as letras a “aposta na formação”.
Qualquer gestor desportivo procuraria potenciar os jovens da
formação no clube que os formou, valorizando-os ao máximo e retirando deles as
contrapartidas desportivas que a sua classe poderia proporcionar à equipa. E essa
valorização não é coisa que se possa fazer num ano, nem sequer em dois. Um jogador
de dezoito anos deveria, no mínimo, ficar no clube mais três ou quatro anos
para poder ser vendido quase no auge das suas potencialidades e não no próprio
ano em que aparece ou no começo do seguinte.
O que se passou com Renato Sanches é um bom exemplo dessa
política suicidária da direcção do Benfica. Tendo em conta as potencialidades
do jogador, tendo em conta o seu inestimável contributo na caminhada da época
em curso, tendo em conta a sua mais que previsível progressão nas duas próximas
épocas, é pouco menos que “criminoso” o que acaba de ser feito. E a prova de que
não estamos enganados é o preço por que o jogador foi vendido: uma parte certa
(baixa) e outra incerta (superior à certa), dependente de factores nos quais o
Benfica não tem a mínima interferência.
Se essa é política que a direcção do Benfica pretende pôr em
prática – e os exemplos anteriores apontam claramente nesse sentido – então os
benfiquistas podem desde já preparar-se para verem sair da equipa ainda este
ano jogadores como Ederson, Lindelöf, Gonçalo Guedes, Semedo, Talisca e
qualquer outro da mesma idade que entretanto possa aparecer.
Este é o caminho para que o Benfica pela via mais curta passe
a copiar o Sporting pre-Bruno de Carvalho e, pior do que isso, passe a seguir
as pisadas do Porto que na ânsia desmedida de vender se colocou numa situação
da qual dificilmente sairá ou da qual não sairá tão cedo.
Uma coisa é certa: no futebol não há milagres. Todavia, há
todas as razões para supor que a direcção do Benfica, inebriada pelos êxitos
recentes, acredita em milagres.
Uma última palavra. A direcção do Benfica como qualquer outra
que se dedique a pôr em prática políticas semelhantes deve ficar a saber que
aos adeptos, a todos os adeptos e não apenas aos do Benfica, causa imensa
confusão esse imenso frenesim com que no fim de cada época se vende e compra,
gastando quase tanto em compras como o que se arrecada em vendas, além de nunca
se perceber bem para onde vai tanto dinheiro quando o resultado das vendas é
manifestamente superior ao das compras, nomeadamente quando as receitas
ordinárias e extraordinárias da época são avultadas.
Causa confusão aos adeptos e estamos crentes que, dentro em
breve, alguém mais, por dever de ofício, se encarregará de “compreender” o que
os adeptos na sua “ignorância” não alcançam!
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