ARSENAL 3 – BENFICA 2
Que o Benfica iria ter vida difícil na segunda mão dos dezasseis
avos de final da Liga Europa, já toda a gente sabia, dada a fraca qualidade do
futebol do Benfica e a incapacidade da equipa em criar situações de golo ou em
concretizá-las nas poucas vezes em que as cria. O que se não sabia era que o
treinador iria ter uma tão grande responsabilidade nessa derrota com as
substituições que fez por volta dos 60 minutos de jogo.
Para que se perceba: o Benfica voltou a apresentar-se no jogo
da segunda volta (disputado em Atenas por causa da COVID 19) com uma defesa de
três centrais (Lucas Veríssimo, Otamendi e Vertonghen), mais dois laterais (Diogo
Gonçalves ed Grimaldo). Uma linha média de três elementos (Weigl, Taarabt e
Pizzi), uma linha avançada de dois: (Seferovic e Rafa).
Esta concepção táctica dos três centrais, mais dois laterais,
que o Benfica experimentou, com outros jogadores, numa partida para a Taça de
Portugal, salvo erro contra o Estoril, e depois repetiu parcialmente com os
mesmos jogadores contra o Arsenal no jogo da primeira mão, foi, em nosso
entender, muito mais ditada pela necessidade dc “acantonar” Lucas Veríssimo,
que Jesus tanto se esforçou por contratar, do que pelas exigências ditadas pelo Arsenal.
Logo aqui começam as “invenções” do treinador, pois sendo este um sistema
exigente do ponto de vista do posicionamento defensivo só por muita sorte é que
não iriam no decorrer do jogo aparecer situações para as quais a defesa no seu
conjunto de cinco não estava suficientemente rotinada para responder com
eficácia. Depois, sendo um sistema que exige muito dos laterais, já que terá de
ser por via deles que se poderá dar
largura e profundidade ao jogo atacante, só pode ser experimentada e aplicada
com sucesso quando se dispõe de laterias rápidos e com grande capacidade de
recuperação nas transições defensivas. Por seu turno, competirá aos médios,
pelo menos a dois deles, fechar o espaço que os laterais deixam a descoberto quando
atacam e não recuperam defensivamente a tempo. Acresce a isto, para que a equipa
tenha bola na frente e gente na área, que além dos avançados haja nas
jogadas de ataque a presença do médio mais ofensivo e de um dos laterais.
Como o sistema é complexo, pressupõe muito trabalho, rotina
ganha em competição, não seria de estranhar, como não foi, que a defesa, e por reflexo toda a equipa, para não se desposicionar, jogasse com lentidão,
muita lateralização e passes para trás, enquanto o Arsenal ia tentando furar as
linhas sempre que não caía na ratoeira do fora de jogo.
Esta foi a escolha de Jesus que somente não correu mal no
primeiro tempo, apesar de o Benfica ter sofrido um golo, porque Diogo Gonçalves
marcou de livre directo à entrada da área um excelente golo. Este golo, muito
perto do intervalo, animou a equipa que se desprendeu das correias tácticas com que o treinador a agrilhoou a ponto de, nos pucos minutos que lhe faltavam para aa pausa ter
estado à beira de marcar o segundo.
Veio a segunda parte e o jogo continuou frouxo nos quinze
minutos iniciais, apesar de o Arsenal já estar a dar mostras de que iria arriscar
o necessário para mudar o resultado, sem contudo ter criado nenhuma situação
para o conseguir.
E foi então, aos 60m minutos, que Jesus cometeu a asneira da
noite, previsível para qualquer pessoa que, com dois dedos de testa, venha
acompanhando a carreira do Benfica e as capacidades dos seus jogadores. De uma
assentada Jesus substituiu Seferovic, Taarabt e Pizzi por Darwin, Gabriel e Cebolinha.
Se a substituição de Seferovic por Darwin ainda se pode compreender, pelas
alterações que o modo de jogar de Darwin poderia trazer à frente de ataque do
Benfica, apesar do suíço estar a cumprir dentro daquilo que são as suas
capacidades, já as outras duas se anteviam verdadeiramente suicidárias.
Por sorte, antes que qualquer daqueles jogadores tivesse tido
tempo de sequer tocar na bola, houve um canto contra o Benfica que permitiu a Helton
Leite lançar rapidamente a bola para frente, antes de a equipa do Arsenal tivesse
tido tempo de se reposicionar, bola essa defeituosamente atrasada por um defesa
do Arsenal que permitiu a Rafa num dos seus extraordinários sprints ser mais
rápido que o guarda-redes adversário e entrar com a bola pela baliza dentro.
Estava marcado o segundo golo e a eliminatória na mão com
grande probabilidade de o score ainda poder ser mais dilatado, se o Benfica
tivesse em campo jogadores suficientemente rápidos e tacticamente evoluídos capazes
de proporcionar aos avançados bolas em profundidade. Pouco depois do golo,
Darwin ainda se isolou, flectiu para a esquerda, mas quando chegou perto da
baliza começou a não saber o que fazer com a bola, enrolou-se nela e perdeu-a.
Numa outra ocasião, Gabriel beneficiando de umas dessas transições ofensivas,
tinha tudo para entregar a bola ao colega isolado com grande probabilidade de
marcar, mas optou por entregá-la inexplicavelmente ao guarda-redes adversário.
O Arsenal cada vez mais ansioso continuava a atacar pela
esquerda e pela direita. Cebolinha completamente perdido em campo, não fazendo
a menor ideia de como se defende, deixou de ser o obstáculo que o Benfica precisava
para anular as jogadas do lado direito da defesa do Benfica e também à frente de cada
vez que pegou na bola nada fez, salvo andar ou passar para trás. Um completo desastre,
como, insisto, qualquer pessoa que perceba um pouquinho de futebol estaria em
condições de antecipar. Por outro lado, Gabriel, errático nas marcações, como
sempre, e sem qualquer hipótese de fazer passes longos, mesmo mal feitos, foi
juntamente com Cebolinha mais um homem a menos no meio capo, recaindo sobre Weigl
o trabalho que seria de um ou de outro, obrigando-o a desposicionar-se, deixando
uma aberta no lugar que deveria ocupar. Veríssimo, pelo seu lado, ia dando
sinais de intranquilidade. E assim, numa jogada pelo lado direito do Benfica, em
que Cebolinha se portou nas duas vezes em que tentou enfrentar-se com o
atacante arsenalista como uma verdadeira barata tonta, surgiu num remate cruzado
indefensável o segundo golo do Arsenal.
Para cúmulo das asneiras, Jesus a sete minutos do fim tirou
Grimaldo e meteu Nuno Tavares. E então numa bola que, começando por circular pela lado direito
da defesa do Benfica sem que ninguém a interceptasse, chegou ao lado
esquerdo com Gabriel como espectador e Nuno Tavares, distante do jogador que a recebeu, permitiu que este cruzasse à vontade para o poste oposto onde Aubameyang se
antecipou a Lucas Veríssimo e fez o terceiro.
Depois dos 90 ainda entrou, para jogar pouco mais que dois
minutos, Waldschmit num sacrifício gratuito, inútil e desnecessário.
E assim terminou uma jornada europeia em que Jorge Jesus mais
uma vez deixou claro, sem qualquer dúvida, não somente a sua incapacidade para “ler”
o jogo, como para fazer substituições.
Um erro imperdoável, tanto mais quanto mais previsível era o que poderia
acontecer.
Jorge Jesus pode não sair pelo seu pé, mas se esse for o
caso, como infelizmente parece, o Benfica vai ter que friamente ponderar o que
lhe ficará mais caro: se manter Jorge Jesus em posto; ou se despedi-lo imediatamente.
Se tivesse vergonha e dignidade, Jorge Jesus faria o que qualquer pessoa
decente faz quando falha tão escandalosamente num lugar de alta
responsabilidade. Ia-se embora, com ou sem pedido de desculpas.
1 comentário:
Análise perfeita, só faltou dizer que o adversário joga com 12 e nós com 9. Tarabt, caos completo em todos os jogos.
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