As pessoas comuns que o ouvem na televisão chegam a pensar
que não se trata de uma pessoa normal ou então que é alguém completamente
transformado quando fala de futebol, porventura por ter acumulado décadas e
décadas de frustrações futebolísticas de que já não tem idade para se libertar.
Num programa onde está acompanhado por um provocador nato,
que se está positivamente nas tintas para a repercussão que as suas palavras
possam ter fora da sua tribo e por um sonso, que apenas procura tirar vantagens
de outra ordem, nomeadamente políticas, da sua participação num programa em que
o Benfica desempenha um papel meramente instrumental, Barroso pode dar livre
curso às suas frustrações, provocações e ódios de estimação porque nenhum dos
outros dois está verdadeiramente interessado em o contrariar.
Essa pretensa vantagem de Barroso acaba por ser o seu
principal inimigo. Falando como fala, sem contenção, fanaticamente, ele é uma
verdadeira máquina de fazer anti-sportinguistas. Pessoas que não sendo adeptas
do Sporting e não tendo nenhuma especial antipatia pelo clube tornar-se-ão com
muita facilidade anti-sportinguistas militantes depois de ouvirem Barroso no
Programa “Prolongamento”.
É caso para dizer que intelectual e emocionalmente ele está
ao nível de Dias Ferreira e a léguas da “perspicácia política” de Oliveira e
Costa.
No começo do programa da noite passada – e só essa pequena
parte tive paciência para ver – disse Barroso que essa coisa de o Eusébio ser
um homem da selecção não passa de uma treta. O Eusébio é um símbolo do Benfica
e na selecção não fez nada de importante com excepção desses jogos de 66 em
que a equipa da selecção era o Benfica mais dois!
Barroso, além de ser “politicamente” uma desgraça, é muito
ignorante em coisas do futebol. O que é mais uma prova do seu irreprimível
fanatismo, pois, dedicando ele tanto tempo à modalidade, de futebol só “conhece”
as fantasias com se deleita recriando a história do “seu Sporting”.
Para sua informação futura: Para participar no campeonato do Mundo
de 66 foram convocados 22 jogadores (só mais tarde a FIFA permitiu a escalação
de 23 para que as equipas pudessem contar com três guarda redes sem
desguarnecer o princípio de haver dois jogadores para cada lugar).
Desses 22 jogadores convocados, 9 eram do Sporting: Carvalho,
Peres, Figueiredo, Lourenço, Hilário, Manuel Duarte, Morais, Alexandre Baptista
e José Carlos; 7 eram do Benfica: Germano, Cruz, Coluna, José Augusto, Eusébio,
Torres e Simões; do Porto, 3: Américo, Custódio Pinto e Festa; do Belenenses, 2:
José Pereira e Vicente; e do Vitória de Setúbal,1: Jaime Graça.
Portanto, o Sporting foi o clube que mais jogadores deu à
selecção de 66. Certamente que nem todos jogaram, já que, alguns, para jogar,
teriam de deixar de fora outros jogadores do Sporting (como era o caso de José
Carlos) e outros, os avançados, teriam de colocar na reserva algum ou alguns
dos cinco titulares do Benfica. Mas haveria alguém no lote dos 22 que pudesse
pôr em causa a titularidade de Coluna, José Augusto, Eusébio, Torres e Simões? Só
por incapacidade física de algum deles poderiam os outros atacantes aspirar à
titularidade, já que à época – provavelmente Barroso não sabe – não havia
substituições. Do Sporting, jogou Carvalho o primeiro jogo e jogaram
regularmente Alexandre Baptista, Hilário e Morais, tendo este, tal como
Vicente, falhado o jogo contra a Inglaterra por lesão.
Em conclusão: a equipa era constituída por 5 jogadores do
Benfica (dos melhores da História do Benfica e dos melhores que havia na
Europa, à época); por 3 do Sporting; 2 do Belenenses e um do Vitória de
Setúbal.
Ao desqualificar ou, pelo menos, tentar diminuir, o papel de
Eusébio na selecção de 66, Barroso demonstra mais uma vez que tem a
“inteligência” completamente embotada pelo fanatismo, pois se há algo sobre o
qual há um consenso mundial em matéria de futebol esse algo é certamente o
papel de Eusébio no Mundial de Inglaterra: as suas exibições fazem parte da
História do Futebol!
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