DEPOIS DO BENFICA-PORTO
Nada mais haveria a dizer relativamente à última jornada para
além daquilo que já estava dito – que o Benfica ganhou concludentemente ao
Porto e que o Estoril e Sporting se anularam mutuamente – se as declarações de
Jesus e de Pinto da Costa não tivessem aberto uma nova frente de discussão não
tanto pelo que disseram mas pelo que se depreende daquilo que disseram.
Pinto da Costa falou obviamente da arbitragem de Soares Dias –
era o pretexto da entrevista – considerando-a escandalosa. Pinto da Costa a criticar
a arbitragem é um pouco como Al Capone a exigir o cumprimento da lei. Não pode
ser levado a sério e, de facto, ninguém o leva a sério quando ele critica os
árbitros, embora toda a gente o leve a sério – muito a sério - quando ele se ocupa
da arbitragem com a eficiência que toda a gente lhe reconhece, exuberantemente demonstrada
nos mais de trinta anos que leva à frente do FCP.
O que verdadeiramente Pinto da Costa pretendeu com a
entrevista que concedeu ao seu canal foi, por um lado, dar um sinal claro aos
críticos que tomará boa nota daqueles que continuam a não acreditar na equipa e
que tanto tem contribuído para a desmoralizar. Pinto da Costa conhece como
ninguém as fragilidades do plantel que tem, assim como está ciente das
limitações do treinador que escolheu. Todavia, sabe que não é agora o tempo certo
para remediar os problemas criados por aquelas duas graves deficiências e por isso fez
questão de vir dizer aos seus apaniguados que não aceita mais críticas ao
plantel nem ao treinador. Exige unidade em torno das escolhas feitas, tanto
mais que o Benfica vai ficar fragilizado na segunda metade do campeonato e o Sporting
verdadeiramente ainda não conta para ele. Ele acha que um Porto a cinquenta por
cento será suficiente, se internamente novas fissuras não forem abertas.
Este, o primeiro recado. O segundo tem a ver com a sucessão.
Pelo que disse, Pinto da Costa quis igualmente sinalizar que não apoia Fernando
Gomes (presidente da FPF) nem António Oliveira para presidentes do Porto.
Que Pinto da Costa não apoia um nem outro é absolutamente claro.
Partir daqui para afirmar que ele já tomou partido pela luta que no seu “inner
circle” se trava pela sua sucessão é que parece um pouco exagerado, mesmo que
um dos putativos ou pretensos sucessores seja o seu filho. É que Pinto da
Costa, como todos os ditadores que se prezam, não aborda a sucessão nem a
encara…apesar de ela inevitavelmente vir a ocorrer. E nessas circunstâncias, ou
seja, no contexto que os próprios ditadores acabam por criar, tentar saber quem
eles pretenderiam para lhes suceder será perfeitamente irrelevante.
De Jorge Jesus apenas a confirmação de que não conta com os jovens
jogadores portugueses nem nada fará por eles mesmo que pertençam à formação do
clube que lhe paga rios de dinheiro…para ele disputar à Liga Europa.
O que Jorge Jesus disse a propósito da substituição de Matic
é absolutamente inaceitável, quaisquer que tenham sido ou venham a ser as
correcções posteriores às suas palavras. Jesus não sabe falar, nem sabe
português suficiente para se exprimir com correcção, mas o que ele disse, por
palavras e por gestos, a propósito das hipóteses de os jovens da formação virem
a integrar o primeiro team é
absolutamente eloquente. Não precisa de tradução nem de interpretações.
Mais: não é a primeira vez que Jesus desincentiva a formação.
Ainda há umas semanas atrás, a propósito da permanência de Ivan Cavaleiro na
equipa principal, as suas palavras se tivessem sido ditas por um inimigo do
jogador não seriam mais contundentes. Também disse claramente que o Benfica
tinha naquela posição excelentes jogadores e que quando todos estivessem aptos
as hipóteses daquela jovem promessa seriam muito escassas.
Acontece, para além de tudo o que significa esta atitude de
Jesus, que ele é exactamente uma das pessoas que menos – ou nenhuma –
legitimidade tem para se pronunciar sobre a afirmação dos jovens valores portugueses.
Jesus está principescamente pago no Benfica, tem beneficiado de plantéis
fabulosos, como o deste ano, e apenas ganhou um campeonato com jogadores como
Luisão, David Luiz, Aimar, Saviola, Cardozo, Di Maria, Ramires, Fábio Coentrão,
entre outros. Tem contratado ou proposto a contratação de jogadores medíocres e
recusa-se a abrir oportunidades para jovens valores portugueses, como, por
exemplo, André Gomes, escandalosamente ostracizado pelo treinador. Apenas um
nome entre vários.
O próprio Matic que ele agora tanto admira só despontou no
Benfica em estado de necessidade. Tivessem Xavi Garcia e Witzel
ficado na equipa mais um ano e ainda hoje Matic continuaria no banco ou já
estaria dispensado ou emprestado a um qualquer clube sem ambições.
Perante situações como esta, o presidente do Benfica deveria intervir publicamente, desautorizando Jorge Jesus. É o que verdadeiramente se
exige, já que a "reinterpretação" que Jesus possa vir a fazer das suas próprias palavras é manifestamente
irrelevante!
Sem comentários:
Enviar um comentário