sábado, 18 de janeiro de 2014

RESCALDO DA JORNADA: PINTO DA COSTA E JESUS




DEPOIS DO BENFICA-PORTO

Nada mais haveria a dizer relativamente à última jornada para além daquilo que já estava dito – que o Benfica ganhou concludentemente ao Porto e que o Estoril e Sporting se anularam mutuamente – se as declarações de Jesus e de Pinto da Costa não tivessem aberto uma nova frente de discussão não tanto pelo que disseram mas pelo que se depreende daquilo que disseram.

Pinto da Costa falou obviamente da arbitragem de Soares Dias – era o pretexto da entrevista – considerando-a escandalosa. Pinto da Costa a criticar a arbitragem é um pouco como Al Capone a exigir o cumprimento da lei. Não pode ser levado a sério e, de facto, ninguém o leva a sério quando ele critica os árbitros, embora toda a gente o leve a sério – muito a sério - quando ele se ocupa da arbitragem com a eficiência que toda a gente lhe reconhece, exuberantemente demonstrada nos mais de trinta anos que leva à frente do FCP.

O que verdadeiramente Pinto da Costa pretendeu com a entrevista que concedeu ao seu canal foi, por um lado, dar um sinal claro aos críticos que tomará boa nota daqueles que continuam a não acreditar na equipa e que tanto tem contribuído para a desmoralizar. Pinto da Costa conhece como ninguém as fragilidades do plantel que tem, assim como está ciente das limitações do treinador que escolheu. Todavia, sabe que não é agora o tempo certo para remediar os problemas criados por aquelas duas graves deficiências e por isso fez questão de vir dizer aos seus apaniguados que não aceita mais críticas ao plantel nem ao treinador. Exige unidade em torno das escolhas feitas, tanto mais que o Benfica vai ficar fragilizado na segunda metade do campeonato e o Sporting verdadeiramente ainda não conta para ele. Ele acha que um Porto a cinquenta por cento será suficiente, se internamente novas fissuras não forem abertas.

Este, o primeiro recado. O segundo tem a ver com a sucessão. Pelo que disse, Pinto da Costa quis igualmente sinalizar que não apoia Fernando Gomes (presidente da FPF) nem António Oliveira para presidentes do Porto.

Que Pinto da Costa não apoia um nem outro é absolutamente claro. Partir daqui para afirmar que ele já tomou partido pela luta que no seu “inner circle” se trava pela sua sucessão é que parece um pouco exagerado, mesmo que um dos putativos ou pretensos sucessores seja o seu filho. É que Pinto da Costa, como todos os ditadores que se prezam, não aborda a sucessão nem a encara…apesar de ela inevitavelmente vir a ocorrer. E nessas circunstâncias, ou seja, no contexto que os próprios ditadores acabam por criar, tentar saber quem eles pretenderiam para lhes suceder será perfeitamente irrelevante.

De Jorge Jesus apenas a confirmação de que não conta com os jovens jogadores portugueses nem nada fará por eles mesmo que pertençam à formação do clube que lhe paga rios de dinheiro…para ele disputar à Liga Europa.

O que Jorge Jesus disse a propósito da substituição de Matic é absolutamente inaceitável, quaisquer que tenham sido ou venham a ser as correcções posteriores às suas palavras. Jesus não sabe falar, nem sabe português suficiente para se exprimir com correcção, mas o que ele disse, por palavras e por gestos, a propósito das hipóteses de os jovens da formação virem a integrar o primeiro team é absolutamente eloquente. Não precisa de tradução nem de interpretações.

Mais: não é a primeira vez que Jesus desincentiva a formação. Ainda há umas semanas atrás, a propósito da permanência de Ivan Cavaleiro na equipa principal, as suas palavras se tivessem sido ditas por um inimigo do jogador não seriam mais contundentes. Também disse claramente que o Benfica tinha naquela posição excelentes jogadores e que quando todos estivessem aptos as hipóteses daquela jovem promessa seriam muito escassas.

Acontece, para além de tudo o que significa esta atitude de Jesus, que ele é exactamente uma das pessoas que menos – ou nenhuma – legitimidade tem para se pronunciar sobre a afirmação dos jovens valores portugueses. Jesus está principescamente pago no Benfica, tem beneficiado de plantéis fabulosos, como o deste ano, e apenas ganhou um campeonato com jogadores como Luisão, David Luiz, Aimar, Saviola, Cardozo, Di Maria, Ramires, Fábio Coentrão, entre outros. Tem contratado ou proposto a contratação de jogadores medíocres e recusa-se a abrir oportunidades para jovens valores portugueses, como, por exemplo, André Gomes, escandalosamente ostracizado pelo treinador. Apenas um nome entre vários.

O próprio Matic que ele agora tanto admira só despontou no Benfica em estado de necessidade. Tivessem Xavi Garcia e Witzel ficado na equipa mais um ano e ainda hoje Matic continuaria no banco ou já estaria dispensado ou emprestado a um qualquer clube sem ambições.


Perante situações como esta, o presidente do Benfica deveria intervir publicamente, desautorizando Jorge Jesus. É o que verdadeiramente se exige, já que a "reinterpretação" que Jesus possa vir a fazer das suas próprias palavras é manifestamente irrelevante!

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