sábado, 26 de março de 2016

AS MENTIRAS DE MARQUES LOPES


 
MAIS UMA FALSA VIRGEM

 

À medida que o tempo passa a gente vai-se convencendo que só vale mesmo a pena ler o que nos possa enriquecer, seja na política, na literatura, nas artes e também no futebol.

No futebol, então, é uma pura perda de tempo ouvir, ler ou ver quem nada nos possa trazer de novo. Para ouvir a repetição sistemática de velhos lugares comuns ou mentiras de pouco nível, sejam elas ditadas pelo ardor clubístico ou pela falta de carácter, mais vale fazer qualquer outra coisa mais proveitosa. Essa a razão por que jamais leio as pobres croniquetas que alguns jornais desportivos recolhem de comentadores sem nível, mas que por razões desconhecidas se tornaram conhecidos pelo tempo que as nossas pobres televisões lhes prodigalizam.

Acontece que ontem – dia muito triste para quem realmente gosta de futebol – comprei um jornal desportivo que trazia uma dessas croniquetas assinada por Marques Lopes. Sei que é um fulano que fala num programa de TV pretensamente satírico, mas que os seus participantes levam muito a sério, onde se dizem umas banalidades notívagas sobre a política nacional.

Era fácil prever pelo título que se trataria de um artiguelho contra o Benfica. Por curiosidade li-o e devo confessar que fiquei espantado.

Como é possível que um adepto de um clube que cometeu tudo o que de mais reprovável possa haver em futebol tenha a ousadia de vir lançar as mais soezes calúnias sobre um clube sério e democrático, obviamente alicerçadas em factos falsos, deturpados ou dolosamente alterados?

Como é possível que um adepto de um clube que durante trinta anos fez do futebol português uma grande batota se atreva a salpicar de lama um clube sério e honesto?

Comecemos pelo princípio: no princípio foi a “luta heroica” para ter na presidência da Comissão de Arbitragem e nos respectivos Conselhos de Disciplina e de Jurisdição pessoas que aberta, declarada e vergonhosamente defendessem os interesses desse clube como se o lugar que ocupavam mais não fosse do que uma simples extensão do clube a que pertenciam. E assim se conseguiram as primeiras vitórias, vitórias que jamais teriam acontecido sem a batota que as permitiu.
Enumeremos a título de exemplo algumas situações mais correntes.
Havia árbitros escandalosamente parciais, árbitros que chegaram durante uma época a marcar mais penalties e livres directos `entrada da área a favor dessa equipa do que golos por ela marcados em jogadas corridas. Épocas em que o vencedor da “bola de prata” dessa equipa marcou mais golos de penalty do que de qualquer outro modo. Épocas em que o guarda-redes dessa equipa tinha “autorização” para defender com a mão fora da área sem que nada – nada! – lhe acontecesse. Épocas a fio em que os centrais dessa equipa substituíam os juízes de linha nas marcações dos fora de jogo (“levantavam a mão e o liner assinalava off side”, vide depoimento de J. Toschack). Épocas em que os defesas dessa equipa tinham autorização para agredir os avançados da equipa adversária sem que nenhuma expulsão ocorresse nem sequer admoestação na maior parte dos casos. Épocas em que os jogadores dessa equipa nunca viam o segundo amarelo por mais faltas que cometessem e qualquer que fosse a sua gravidade, como, por exemplo, Jorge Costa e Fernando Couto, entre muitos outros. Épocas em que essa equipa marcou golos na sequência de centros realizados com a bola fora do campo. Épocas em que qualquer contacto, verdadeiro ou simulado, existente na área da equipa adversária era sistematicamente punido com grande penalidade.

Foram as gloriosas épocas dos “Quinhentinhos”(ler “Golpe de Estádio”) e depois do “Apito Dourado” (ouvir as escutas).

Numa primeira fase essas famosas vitórias alcançaram-se não apenas pela via da arbitragem mas também pelo silenciamento do que se passava nos jogos em que essa equipa intervinha. Esse silêncio foi conseguido à custa da substituição forçada, imposta frequentemente pelo terror, de qualquer jornalista que relatasse os factos ocorridos, imediatamente taxado de “sulista” ou de “mouro”, epítomes que funcionavam como sinónimo de alvo a abater, e abriam a porta à sua substituição por jornalistas completamente domesticados ou tão fanaticamente adeptos quanto os seus mandantes. Por via também da covardia das direcções dos jornais e de outros órgãos de comunicação, qualquer resistência ou denúncia deste estado de coisas era silenciada pela agressão física, fosse o jornalista do norte, do centro ou do sul, num combate sem tréguas à liberdade de informação e à independência do jornalismo. Dentro da lógica de quem mandava importante era saber se o jornalista era independente ou não. Se fosse tinha de levar o correctivo necessário para deixar de o ser…pelo menos nos territórios dessa equipa.

A “persuasão” era tanta e tal era sua intensidade que até conhecidas personalidades da área política ou empresarial, que viviam ou trabalhavam nos “territórios” dessa equipa, que antes eram Benfica tiveram de deixar de o ser para “tratarem da vidinha”, passando do dia para a noite a fervorosos adeptos da equipa das “grandes vitórias”!

Essa mesma política estendia-se às equipas adversárias mais pequenas que, quando prejudicadas – e isso acontecia sempre que necessário -, se falassem, seriam imediatamente penalizadas. Daí que essas equipas, quase sem excepção, tivessem adotado a técnica do silencio – uma espécie de “omerta à siciliana – por rapidamente terem compreendido que quanto mais falassem mais prejudicadas seriam. Ficou célebre, depois de um jogo em que tudo aconteceu, a ponto de até o juiz de linha ter passado uma bola ao extremo dessa equipa que assim iniciou um contra-ataque prometedor e em que no fim houve grande confusão entre jogadores e adeptos de ambas as equipas, confusão que se prolongou no próprio hospital onde os feridos estavam a ser tratados, ficou célebre, dizíamos, o “ordálio” lançado publicamente, contra o presidente que teve a ousadia de se insurgir contra as vergonhas que tinham acontecido no campo e fora dele, pelo presidente da equipa das “grandes vitórias”: “Ireis para a segunda divisão e nunca mais de lá saireis, a não ser mais para baixo!”. E de facto, essa equipa por lá ficou várias décadas até que um empreiteiro de construção civil de “confiança” oriundo dos territórios da equipa das “grandes vitórias” a tivesse de novo trazido à primeira divisão…Quem falasse, quem denunciasse não teria jogadores emprestados, teria contra si a animosidade dos árbitros e o desdém dos silenciados!

Foi assim que o poder se conquistou. Pela força, pela violência, pela ameaça.

Depois, à medida que as principais equipas adversárias se foram naturalmente enfraquecendo – a ponto de terem passado por um longuíssimo “jejum” de títulos – e essa equipa se foi cada vez mais engrandecendo entrou-se numa segunda via. Uma via  que não desprezava os métodos do passado sempre que necessário, mas que por força do valor das equipas em confronto os tornava menos frequentes. Essa via assentava na ideia de que o futebol, para essa equipa, teria de deixar de ser um jogo, de sua natureza aleatório, para se tornar numa coisa certa!

A ideia era muito simples (nós somos os melhores) e assentava na seguinte consequência (logo, não podemos perdera não ser quando isso já for completamente irrelevante).

Como o escândalo do futebol português começou a ser muito falado lá fora, era necessário abandonar os velhos métodos, que agora já não eram tão necessários como nos primeiros vinte anos e introduzir algo de novo, algo que se assemelhasse à normalidade.

E então o esquema era o seguinte: Como a equipa era claramente superior não precisava, em princípio, de favores. Todavia, para prevenir surpresas seria conveniente que o árbitro estivesse sempre preparado para desbloquear qualquer situação que não estivesse a fluir com a normalidade esperada ou para impedir qualquer acaso que pusesse a equipa numa situação de desvantagem ou, muito importante, para abortar qualquer tentativa de renascimento das equipas rivais.

E é este estado de coisas que o escândalo do “Apito Dourado” reflecte. De facto, a maior parte das situações ocorre contra equipas pequenas, equipas manifestamente inferiores, mas que convinha impedir que perturbassem o “bom funcionamento” da equipa favorita, principalmente antes e depois dos jogos europeus. Esta via contudo nunca perdeu de vista as influências directas nos jogos das equipas rivais, nomeadamente no princípio da época, quer para as desmoralizar, quer para impedir algo que se assemelhasse a um começo de consolidação do renascimento dessas equipas.

Essa a lógica do “Apito Dourado” cujas escutas tanto escandalizaram o “impoluto” Rui Moreira, a ponto de ter abandonado um programa desportivo em que participava, dentro da conhecida lógica siciliana que nos diz: “Podes matar, porque, desde que não haja provas válidas, ninguém te poderá acusar de teres matado”. As escutas apesar de reais, inequívocas, indiscutíveis, também não poderiam sustentar qualquer acusação…porque não eram válidas. Essa a lógica e a moral dos super, dos grandes, dos médios e dos pequenos adeptos dessa equipa.

E o rol não teria fim…Felizmente, tudo parece ter acabado a partir do momento em que essa imensa legião de árbitros corruptos foi sendo naturalmente afastada do futebol (sem esquecer que alguns foram irradiados) e a arbitragem foi entregue aos próprios árbitros!

E então o futebol passou a ser um jogo. Um jogo onde há dias bons e dias maus, um jogo onde todos cometem erros: os jogadores, os treinadores, os árbitros. Um jogo em que a sorte também tem um papel.

Dizer que o Benfica não sofre penalties é falso. O Benfica tem sempre sofrido penalties ao longo das épocas. Em todas as épocas o Benfica, desde que existe, sempre sofreu penalties. Coisa que se não passa com o Sporting nem com o Porto! Por outro lado, tanto David Luiz como Maxi Pereira, jogadores citados pelo A. do artiguelho, quando alinhavam pelo Benfica, foram expulsos, punidos muitas vezes com amarelo e cometido faltas que originaram penalties.

O Benfica, este ano, no campeonato, ainda não cometeu faltas para penalties, sendo essa a razão por que até agora ainda não foram marcados. De todos os casos apontados pelos seus principais adversários, apenas um, em Guimarães, poderia ter sido assinalado, embora se compreenda que o árbitro o não tenha feito (referimo-nos ao contacto de Fejsa com um jogador do Guimarães, que deliberadamente o procurou , podendo, embora isso não seja certo, o resultado desse jogo ter sido diferente se o penalty tivesse sido marcado. Mas que dizer, por exemplo, dos dois penalties cometidos por Marcano na Madeira contra o Nacional? Do penalty cometido por Naldo contra o Arouca? Do cometido por Gelson contra o Guimarães? Das expulsões perdoadas a Slimani e a João Mário contra o Braga? Enfim, o que dizer de tudo o que neste campeonato foi erro de arbitragem e beneficiou o Porto e o Sporting? Ou pensam os comentadores oficiais, oficiosos e assalariados do Sporting e do Porto que é por repetirem até à exaustão mentiras e deturpações que se tornam verdadeiros os factos em que elas assentam? E que é por o do Benfica não andar sempre com o rol dos erros na mão que eles deixaram de ser praticados?

Queixam-se outros de haver poucos penalties a seu favor ou de não haver expulsões de elementos da equipa adversária. Mas como pode haver mais penalties a favor dessa equipa se ela raramente entra na área adversária e como pode haver expulsões dos elementos contrários se essa equipa joga a passo e sem qualquer intensidade?

 Ganhem no campo e manifestem-se depois. Abstenham-se de invocar falsidades e estejam caladinhos para não terem de ouvir o rol das vossas misérias e vergonhas. É este o conselho que vos damos!

 

 

4 comentários:

FranciscoB disse...

Excelente Post, carregado de verdades insofismáveis.

E se formos ver os resultados dos campeonatos dos últimos 35 anos, verificamos, c/ frequência, a descida de divisão dos clubes q ousavam roubar pontos ao fócuporco...

Mas continuam a ter a lata de falar em túneis, capelas ou calabotes!

ALM disse...

Gostei do explanação resumida como muitos dos factos foram relembrados.
Parabéns pelo post.

Anónimo disse...

Eu muito raramente compro pasquins desportivos, mas quando os leio passo completamente ao lado de gentalha como o Tavares, Dias Ferreira, Barroso ou semelhante. São mentirosos e aldrabões, e como tal, não merecem que uma linha seja lida.

Miguel

Ricardo Viana de Lima disse...

O que se diz de e a Marques Lopes pode dizer-se igualmente a e de Miguel Guedes. Um "Voz do Dono" como não há outro. Nem sequer se percebe por que o trata com tanta benevolência João Gobern.
Gobern não tem de ser mal educado, que é coisa que ele não é, apenas tem de lhe responder com a contundência devida, lembrando o vergonhoso passado de quem agora se quer transformar num falso defensor da "verdade desportiva".