GRANDE VITÓRIA EM S.
PETERSBURGO
Depois da vitória em Alvalade, o Benfica eliminou o Zénite em
S. Petersburgo, vencendo por 2-1, o que juntamente com o resultado da primeira eliminatória
perfaz o resultado agregado de 3-1. Brilhante! O Benfica está nos quartos-de-final
da Champions, fase a que neste século somente por duas vezes havia chegado.
Depois de tudo o que já foi dito sobre esta vitória, talvez
valha a pena começar pelos temas laterais, que apesar de laterais não deixam de
exprimir o modo como o futebol se vê em Portugal.
Para começar, na conferência de imprensa houve um jornalista
português, a quem certamente alguém pagou a longa viagem até à antiga capital
da Rússia, que perguntou a Rui Vitória o que tinha ele a dizer aos adeptos que,
muito realisticamente, achavam não ter o Benfica equipa para passar dos quartos
de final. Esta foi a pergunta que ele tinha para fazer depois da vitória sobre
o Zénite! Que imprensa é esta? Rui Vitória respondeu-lhe à letra.
Mas há mais. Na RTP 3 estão Ricardo Rocha, antigo defesa
central do Benfica, Bruno Pratas, Fidalgo e o pivot, Manuel Fernandes da Silva,
a comentar o jogo. Ao fim de pouco tempo toda a conversa se centra sobre o
próximo adversário do Benfica. Com excepção de Ricardo, sobre o jogo acabado de
jogar não há grande interesse em falar. Importante é falar sobre um adversário
que ninguém sabe quem será e que somente daqui a cerca de dez dias será sorteado.
Mais uma vez, com excepção de Ricardo, que acha que até lá há coisas mais
importantes para o Benfica, a tónica dos outros dois comentadores é a de que os
quartos de final vão ser muito difíceis, que há equipas muito fortes, dando a
entender que o Benfica terá poucas possibilidades. Um pouco misericordiosamente,
Fidalgo acha que importante é não sair ao Benfica o Borússia Dortmund, equipa
muito difícil, diz. Corrige o pivot: “O
Borússia está na Liga Europa”. “Peço
desculpa”, diz Fidalgo e logo vem em seu auxílio o Bruno Pratas: “São as confusões resultantes de na Liga Europa
haver grandes equipas” (percebe-se o que ele quer dizer, não percebe?). E
Fidalgo acrescenta: “O Liverpool também
não convinha nada”. Insiste o pivot: “O
Liverpool também não está na Champions”. É a vez de Bruno Prata.: “Também não seria mau se lhe calhasse o
Manchester United”. O pivot já não sabe o que há-de fazer: “Não é o United, é o City que está na
Champions”. Prata não se dá por vencido e conclui: “Se fosse apurado, o Wolfsburg também não seria mau”. “O Wolfsburg já foi apurado ontem”, remata
o pivot. Enfim, jornalistas desportivos a falar sobre assuntos que não
interessam ao seu clube…
Mais ainda: também a despropósito, um jornalista português
pergunta no fim do jogo a Villas-Boas o que espera ele do Benfica na Champions.
Villas-Boas, despindo o fato de treino do Zénite e vestindo o da claque dos
Superdragões, diz-lhe que o percurso do Benfica na Champions não lhe interessa
nada. E depois acrescenta: “Desculpe a
franqueza. O que o Benfica fará ou não fará na Champions não me interessa. Eu sei
que é uma equipa portuguesa, mas eu sou portista”. Se é certo que a
pergunta não faz nenhum sentido, também não é menos verdade que Villas-Boas
poderia iludir a resposta com mais elegância. O que não se compreende é que um
profissional de futebol, ao serviço de um emblema, se manifeste como um vulgar
adepto de claque por um outro clube. É uma falta de profissionalismo
reprovável.
Quanto ao jogo de hoje à tarde e à respectiva eliminatória, a
nossa apreciação é muito simples: no cômputo dos dois jogos o Benfica foi
superior e mais eficaz. Há qualquer coisa nesta equipa do Benfica que faz com
que ela seja algo mais do que uma equipa de grandes profissionais. Parece que
há uma necessidade colectiva, individualmente expressa por cada um dos
jogadores, de demonstrar que eles é que são os artistas da bola. E que se é
importante o papel do treinador, da organização, sem eles nada se conseguiria.
Quanto ao jogo de hoje, propriamente dito, o Benfica jogou
sempre de igual para igual. As oportunidades repartiram-se por ambas as
equipas, apesar de durante todo o jogo o Benfica ter demonstrado sempre melhor
organização (e mais vontade) do que o Zénite… O Benfica apenas se desequilibrou
no lance do primeiro golo, muito em consequência do choque que deitou por terra
Nelson Semedo e logo a seguir na jogada de Dzyuba, em que os jogadores do
Benfica manifestamente preocupados em não cometer falta para penalty o deixaram ir até à baliza,
tendo valido a grande defesa de Ederson. Fora estas duas situações, o Zénite
não dispôs de nenhuma outra em jogada corrida.
O Benfica, pelo seu lado, além dos golos, teve um grande
remate de Renato na primeira parte, a centímetros do poste, um outro de Jonas
na segunda parte, que, isolado, perdeu no confronto com Lodigin e uma excelente
cabeçada de Lindlöf a que Lodigin correspondeu com mais uma excelente defesa.
A grande vitória obtida no Estádio Petrovsky é
fundamentalmente uma vitória da equipa. Da solidariedade, do colectivismo, da entreajuda,
enfim, do “espírito Rui Vitória”. Todavia, mesma na vitória mais colectiva, há
sempre quem se destaque. Em primeiro lugar, o guarda-redes – Ederson – um jovem
com grande futuro. Chamado a substituir Júlio César, Ederson é já hoje um guarda-redes
de primeiro plano: arrojado e eficaz nas saídas, sólido entre os postes, seguro
nos cruzamentos e portentoso a jogar com os pés. Depois Samaris, que substituiu
Jardel no centro da defesa. Ninguém diria, depois do jogo de hoje, que aquele
não era o seu lugar de sempre. Jogador muito inteligente, com grande cultura
táctica, desempenha com brilhantismo qualquer lugar no centro do terreno.
Renato, uma fera. Ai, que será do Renato no dia em que não errar nenhum passe.
Seguramente um dos portentos do futebol mundial. Fejsa, notável a defender,
depois de longa paragem. Jonas, excelente a distribuir jogo, a pautar o jogo da
equipa, daí que nos jogos em que tem de desempenhar estas funções não marque
golos ou marque menos, mas nem por isso a sua exibição é menos brilhante. A
seguir Gaitan, que marcou um golo importantíssimo, pleno de oportunidade,
embora achemos que ele sempre pode fazer mais como acontece nos dias em que tem
a genialidade à solta. Mitroglou, que igualmente esteve em bom plano dentro dos
condicionalismos impostos pela natureza do próprio jogo, foi substituído por
Jiménez cuja acção acabou por ser determinante para o apuramento do Benfica
dentro do tempo regulamentar. Um grande remate e muita mobilidade. Finalmente,
Eliseu que cresce nos jogos importantes, fez uma exibição muito segura e
personalizada. Nelson Semedo, bom a atacar, deixa muito espaço nas suas costas
quando as coisas lhe não correm bem lá na frente. Em jogos como o de hoje André
Almeida é mais seguro. Pizzi está em abaixamento de forma desde há alguns
jogos. Ele que foi tão importante na recuperação do Benfica, fazendo vários
jogos de grande nível, tem decaído um pouco nos últimos tempos. Salvio que
entrou para o substituir, ainda não está com o ritmo necessário. Talvez tenha
sido um erro pôr Salvio a jogar nos jogos mais importantes. Depois de uma lesão
tão longa e tão grave, justificava-se que entrasse de preferência na Luz em
jogos de menos responsabilidade ou quando o resultado já estivesse feito. Tanto
mais que Carcela estava a jogar muito bem durante a ausência de Gaitan. Por
último, uma palavra para o fantástico Talisca que entrou a dois minutos do fim
do jogo e fez história. Um grande golo. O golo da vitória.
A idade traz experiência e saber acumulado, mas a juventude
encerra potencialidades que ninguém pode desprezar. Ederson, Lindelöf e Renato
Sanches são estrelas que nenhum treinador pode dispensar!
3 comentários:
O Ruiz ainda deve estar a pensar como e que o Nico marcou aquele golo.
Boa, muito boa!
Mais 1 excelente Post.
O face rat boas, q apenas teve êxito no futebol corruptos do porto, e graças a várias arbitragens escandalosas no inicio da época q afastaram o Benfica da disputa do título, mostrou em poucas palavras toda a sua pequenez e o motivo pelo qual merece o sucesso q não tem tido...
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