MOURINHO MUITO NERVOSO
Nunca, como em Espanha, Mourinho foi tão contestado pelos adeptos do clube que treina.
O tema já aqui foi abordado por mais de uma vez. Tem a ver com a natureza do clube que hoje representa, completamente diferente de todos aqueles por onde antes passou (excepção feita ao Benfica, onde esteve episodicamente) e também a ver com o modo de ser espanhol, imperial, dominador e moralizador, que naturalmente rejeita a arrogância e os processos, tantas vezes muito primários, de Mourinho.
Daí que sejam frequentes as críticas cada vez mais violentas que lhe são feitas, até por intelectuais de renome, como esta semana aconteceu no Pais Semanal, por Javier Cercas.
Todos os defeitos de personalidade – e são muitos – de Mourinho são empolados por uma imprensa que já não pode com ele e que manifestamente o rejeita. Os hinchas, os mais selvagens dos seguidores madrilenos, estão certamente com ele. Só que num clube como o Real Madrid esses agrupamentos radicais contam pouco e não fazem opinião.
Por ter consciência de que é detestado, Mourinho aposta tudo esta época em duas vitórias que para ele seriam redentoras e lhe permitiriam abandonar o clube por cima – a vitória no campeonato e a vitória na Liga dos Campeões.
E muito do que acontecer esta semana vai seguramente ditar o futuro próximo de Mourinho. Por isso ela será decisiva.
A vitória na Liga é para ele um objectivo obsessivo: não apenas porque uma vitória na Liga espanhola representaria um duplo record difícil de igualar – vencedor de quatro ligas em quatro países diferentes e simultaneamente vencedor das três ligas mais importantes do mundo – mas também porque seria uma vitória sobre o Barcelona.
O outro objectivo é vencer pela terceira vez a Liga dos Campeões, facto que até hoje nenhum treinador alcançou, e simultaneamente juntar o seu nome, na história do Real Madrid, ao de vários outros que já lograram o mesmo feito.
Com esta dupla vitória Mourinho daria novo alento ao mito da invencibilidade que nunca como em Espanha foi tão abalado e tão soberbamente desprezado.
Dai que Mourinho com o seu enorme, incomensurável, ego aposte tudo nestas duas vitórias, para depois poder “bater com a porta” e ficar desejado. Por isso é tão importante a semana decisiva que hoje começa.
Embora um resultado negativo em Munique, desde que pela diferença mínima, não seja irrecuperável, ele teria contra si o facto muito depreciativo de constituir a repetição do que vem acontecendo ao Real Madrid, em terras bávaras, desde há mais de meio século. E Mourinho, para ser diferente, para poder dizer que continua o special one, tem de ganhar. E tudo fará para o conseguir.
No fim de semana, em Camp Nou, Mourinho no mínimo vai exigir aos seus jogadores que mantenham a diferença pontual que agora os separa dos catalães. Uma derrota, além de pôr em causa a vitória na Liga, seria uma insuportável humilhação. Ficaria claro, absolutamente claro, o que agora já muitos têm por indesmentível: não é o Real Madrid que ganha a Liga, é o Barcelona que a perde.
Algo nos diz que desta vez Messi não vai sair incólume: Mourinho tem por certo que só derrotará o Barcelona se derrotar Messi. E tudo fará e a todos os meios recorrerá para o conseguir. Com Pepe e também com Sérgio Ramos – o mais indisciplinado (dentro do campo) jogador do RM de todos os tempos – tudo se pode esperar, principalmente de Pepe!
Positivamente tem a seu favor a grande forma de Cristiano Ronaldo, supondo que ela se mantém em Camp Nou…
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