O QUE SE SEGUE?
O património mais valioso do Sport Lisboa e Benfica, por
muito que na sua história pesem os êxitos desportivos, era a sua origem popular
e democrática. No Benfica sempre houve eleições livres no tempo da ditadura. Nenhum
presidente do Benfica foi eleito ou reeleito sem ter de se bater contra um
opositor. E mais de uma vez aconteceu o presidente em exercício perder as eleições
no confronto com o outro candidato.
Nada disto se passava nos outros grandes clubes portugueses
onde vigoravam princípios e métodos que nada tinham a ver com as regras
democráticas.
No Sporting era a “aristocracia” sportinguista, sediada no
Conselho Leonino, que tinha nas mãos os destinos do clube. Só muito recentemente
o Sporting passou a ter eleições democráticas, mas ainda hoje se ressente desse
seu passado “aristocrático”. Gonçalves foi, como se sabe, o primeiro presidente
do Sporting eleito pelos sócios e depois, como a experiência foi má, entrou-se
num período de co-optação em que as eleições apenas serviam para ratificar a
escolha já feita e em exercício. Somente com Bettencourt e agora com Godinho Lopes se institucionalizou
verdadeiramente a regra democrática.
No Porto, como toda a gente sabe, vive-se em ditadura com
percentagens de aprovação que fazem da Coreia do Norte uma experiência quase
democrática. Da única vez em que sob o consulado de Pinto da Costa alguém ousou
desafiá-lo esse pobre candidato foi apodado de louco e só por um triz não
correu o risco de internamento num hospital psiquiátrico no bom estilo brejnoviano.
Infelizmente, no Benfica durante a gestão de Vieira passou-se
algo de semelhante. Pela primeira vez um candidato às eleições foi impedido de
participar com base em artifícios estatutários. No fundo, mais perigosa do que
a concorrência desse candidato era a ousadia de alguém desafiar o chefe. Era
isso que se pretendia evitar. E foi isso que, para vergonha dos benfiquistas,
aconteceu.
Felizmente que ontem, para alegria dos benfiquistas, ficou
demonstrado que continua viva no clube a pulsão popular e democrática que
sempre foi a sua matriz. O Relatório e Contas da gestão de Luís Filipe Vieira
foi reprovado por uma margem significativa de sócios.
Vieira, se conhecesse a história do Benfica, se fosse um verdadeiro
benfiquista e não um ex-sócio do Alverca, do FCP e do Sporting, demitia-se e convocava
eleições. O “chumbo” das contas é também a expressão do descontentamento benfiquista
pelos métodos e processos de gestão do Benfica. Não é, pelo facto, de Vieira
ter apenas, como ele faz gala em afirmar, a quarta classe que ele deixa de ser quem é
para passar a ser um lídimo representante do sentimento popular de que acima
falámos. E o mesmo se diga da sua adesão aos princípios democráticos - o modo
como trata os adversários internos e frequentemente se imiscui nos assuntos
internos de outros clubes demonstra que Vieira não está à altura da tradição do
Benfica. Está na hora de sair. E seria bom que ele percebesse isso e poupasse o
Benfica a uma luta fraccionista certamente muito negativa para o futuro do
clube. Que Vieira vá e que deixe aos benfiquistas o encargo de escolher o novo
presidente entre os candidatos que se perfilam para o substituir.
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