E TAMBÉM A PSIQUIATRIA,
JÁ!
O Sporting tinha uma estratégia que a direcção de Bruno de
Carvalho tentou pôr em prática desde que chegou à presidência, embora de uma forma
um tanto ou quanto dispersa essa mesma estratégia já orientasse desde há alguns
anos a prestação televisiva dos comentadores do Sporting.
Essa estratégia assentava no seguinte: como o Sporting não
tinha poder, ou não tinha o poder que pretendia ter nos órgão dirigentes do
futebol português, contrariamente ao que ele supõe passar-se com o Benfica e
com o Porto, a única forma de não ser prejudicado seria protestar desde a primeira
hora, com mais ou menos razão, ou até sem nenhuma, contra tudo o que não lhe corresse
bem, imputando a culpa desse fracasso às maquinações de terceiros. Talvez assim
o Sporting, pensavam os seus dirigentes, não fosse prejudicado, podendo até
acontecer ser beneficiado.
O problema da falência desta estratégia assenta em dois
factores: em primeiro lugar, no relativo êxito do Sporting no campeonato, onde está
a fazer uma prova muito melhor do que aquela que qualquer pessoa, a começar
pelos responsáveis do clube, poderia supor; e, em segundo lugar, por aquilo que
era uma simples estratégia ter passado a ser uma coisa em que os sportinguistas
e os dirigentes passaram a acreditar como se fosse verdade.
Como o Sporting está a fazer uma época muito superior ao previsto,
a gente do Sporting perdeu a noção das realidades e das proporções:
entusiasmou-se e passou a acreditar que poderia ser campeão pela simples e enganosa razão de durante uma
série de jogos a equipa ter respondido com êxito. Mas não perceberam que esse
êxito, embora importante e merecido, era muito menor do que aquilo que parecia.
De facto, o Sporting não só não foi capaz de ganhar a um grande como, por outro lado, não encontrou no seu percurso, por vicissitudes da própria época, nenhuma equipa – e costuma a haver
mais que uma – que estivesse num patamar intermédio entre os grandes e todos os
outros – e isso facilitou-lhe as vitórias. A equipa que mais se aproximava
desse estatuto era o Estoril, contra a qual o Sporting também não conseguiu ganhar.
Só que o entusiasmo dos adeptos, sócios e dirigentes não lhes
permitiu ver a realidade e ter a tal noção das proporções. O Sporting não tinha
plantel para competir com o Benfica nem com o Porto, tendo, por isso, sido
eliminado da Taça de Portugal e da Taça da Liga. Como ficou livre para
se dedicar à única competição que lhe restava – o campeonato -, o Sporting, apesar da menor carga competitiva acabou por confirmar, com o
avançar da época , o que desde início as pessoas mais avisadas tinham previsto: que não tinha plantel à altura das
exigências competitivas a que aspirava e que também não tinha equipa capaz de
suportar a pressão dessas exigências dos adeptos e dos dirigentes, apesar do discurso cauteloso do treinador, à medida
que a época se aproxima do seu termo.
E então o caminho mais simples e no qual piamente acreditam,
dando mostras de uma paranóia difícil de tratar, foi o de imputar aos árbitros
a responsabilidade por não estarem no lugar a que irrealistamente aspiravam.
Claro que houve alguns erros de arbitragem que prejudicaram o
Sporting, mas houve outros tanto que o beneficiaram e muito. O Sporting marcou vários
golos importantes e até decisivos em fora de jogo, beneficiou de penalties
inexistentes - alguns resultantes de “faltas” cometidas fora do campo! –,
foram-lhe perdoados penalties óbvios, não tendo no deve e haver nenhuma razão
de queixa.
O jogo do último domingo, que, à semelhança de outros, deu lugar
a uma gritaria de manicómio, é o típico jogo em que o árbitro comete erros em
série que prejudicam e beneficiam ambas as equipas. Basta dizer que dos quatro
golos do resultado oficial nenhum foi obtido legalmente. O único golo legal do
desafio, a favor do Sporting, não foi considerado. Mas se tivesse sido, quem
pode garantir que o Sporting ganharia o jogo?
A prova de que os dirigentes leoninos perderam a noção das
realidades – e por via deles os adeptos – a ponto de alguns desses dirigentes e
notáveis estarem a carecer de urgente tratamento psiquiátrico, pode encontra-se
no facto de reclamarem o primeiro lugar na Liga, como o lugar em que estariam
se tais erros não tivessem sido cometidos.
É claro que este discurso assenta numa deturpação dos factos,
porventura inconsciente, pelo estado psíquico em que esses dirigentes se
encontram, esquecendo-se esses senhores que uma equipa que joga como o Sporting
jogou nas Antas e depois contra o Benfica não pode aspirar a mais que o
terceiro lugar, que é o melhor lugar a que o clube pode aspirar com os jogadores que tem…se tiver
capacidade para daqui até ao fim do campeonato aguentar a pressão.
1 comentário:
Muitíssimo bem. Só discordo de uma coisa. O golo do Setúbal foi legal. O Jefferson do Sporting está a pôr em jogo (está em linha) o jogador do Setúbal. Mas isto é apenas um pormenor que não altera em nada o seu excelente artigo.
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