sexta-feira, 19 de agosto de 2011

MOURINHO INCENDEIA O FUTEBOL ESPANHOL




MOURINHO JOGA O SEU FUTURO ATÉ AO NATAL

Basta ler a imprensa espanhola e conhecer um pouco a psicologia colectiva do país vizinho para imediatamente se perceber que Mourinho está com a “cabeça a prémio”, jogando na presente temporada o destino do seu próximo futuro.

Antes de mais os espanhóis, como muitos outros povos, são ferozmente nacionalistas, capazes de cerrar fileiras contra o inimigo externo mesmo que internamente se mantenham disputas muito acesas, senão mesmo violentas.

Mourinho é considerado na Espanha um estrangeiro arrogante, que não se deixa subalternizar ou intimidar por viver em país alheio. A arrogância de Mourinho assenta na vitória. E vitória é coisa que Mourinho ainda não alcançou em Espanha, salvo a Copa do Rei, jogada no contexto de múltiplos jogos com o arqui-rival Barcelona do qual saiu derrotado nos demais.

Mais do que em qualquer outro país, Mourinho, em Espanha, depois da humilhante derrota por 5-0, assentou a sua estratégia num confronto verbal violento contra o Barcelona e contra diversos outros poderes do futebol espanhol, quebrando assim uma tradição do “madridismo” que sempre se orgulhou de construir a sua grandeza futebolística apenas e só dentro do campo de jogo.

Para estar completamente à vontade e sentir que a sua estratégia era levada à prática sem hesitações nem reticências, Mourinho, depois de convencer (?) Florentino Pérez que o seu caminho era o único que poderia travar a hegemonia do Barcelona, reclamou para si todo o poder, afastou Valdano e passou a ser ele a comandar toda a acção do Real Madrid tanto dentro como fora do campo numa manifestação de concentração de poder como antes nunca se tinha visto na história do Real Madrid.
Os sectores “intelectuais” do Real reagiram nos chamados jornais de referência a esta predominância de Mourinho, mas o presidente apoiado pelos “hinchas”, pela Marca e, o que parece, pelos jogadores, tem mantido a confiança em Mourinho na expectativa de que este seja o caminho certo para a vitória. Que a alcançar-se tudo desculparia…

Mourinho, “educado” no que há de pior no futebol português, incapaz de ganhar dentro do campo por mérito próprio ao grande Barcelona da actualidade, quis transportar para Espanha, ao serviço do Real Madrid, o clima de permanente guerrilha e de violência verbal que há vários anos existe em Portugal, de modo a criar na aficcion merengue e nos próprios jogadores um estado de espírito capaz de os convencer de que somente a luta contínua contra o inimigo externo poderá levar à vitória.

E então, desde a agressividade no campo, por vezes violência, à guerra verbal fora do campo, tudo lhe vai servindo para atingir os seus fins. Em conferências de imprensa cada vez mais patéticas, Mourinho tem aparecido como uma espécie de mórmon do Utah, fanático, que só vê pecado e devassidão fora da sua seita, contra os quais luta, numa pugna desigual, pela “virtude” que só ele incarna.

Acontece que a Espanha não é Portugal e apesar da fractura, por vezes violenta, da sociedade espanhola em múltiplos outros domínios, ela não se tem deixado instrumentalizar no futebol pelos métodos muito rudimentares de que Mourinho faz uso. Por várias razões: em primeiro lugar, porque Mourinho é estrangeiro, desagradando ao espanhol entrar numa guerra comandada por um estrangeiro; depois, porque há em Espanha a convicção generalizada, mesmo nas hostes do Real Madrid, de que o Barcelona tem uma grande equipa e o que os madridistas verdadeiramente queriam era a construção de uma equipa em Madrid que, pelo seu futebol, pudesse suplantar a de Barcelona e não uma guerra contra o poder de supostos inimigos externos…já que, por definição, o poder está com eles, no centro e não na periferia; finalmente, porque os espanhóis têm um orgulho desmedido na sua selecção, campeã da Europa e do Mundo, e o que menos pretendem é a criação de um clima de violência e de permanente crispação que possa levar à desagregação da selecção, maioritariamente constituída por jogadores do Madrid e do Barcelona.

Por todas estas razões, e mais ainda pelo passado do Real Madrid e o seu tradicional posicionamento no futebol espanhol, Mourinho vai ter poucas hipóteses, ou nenhumas, de ganhar os jogos fora do campo, pelo que começa a escassear o tempo que lhe resta para provar o que vale. Até ao Natal se definirá o seu futuro e, em grande medida, o seu futuro como treinador de mérito.

É muito provável que, para combater o clima que Mourinho está a tentar criar no futebol espanhol, muito rapidamente sejam tomadas medidas severas contra ele na sequência dos acontecimentos de quarta-feira passada. Medidas que, a acontecerem, Mourinho tentará mais uma vez aproveitar ao serviço da sua estratégia. Mas sem êxito, pois como já se viu, o caminho seguido por Mourinho não tem saída.
E isso também demonstra, como neste blogue sempre se tem defendido, que Mourinho não é assim tão inteligente quanto o fizeram. Se persistir na sua estúpida estratégia vai mesmo, mais tarde ou mais cedo, ter de regressar à base, que esse sim é o lugar do mundo onde melhor se poderá integrar e onde terá mestres à altura para colmatar as suas eventuais lacunas ou mesmo para tomarem a seu cargo o essencial do “jogo sujo” de que não prescindem para as suas actuações.


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