UMA ANTEVISÃO
Fica claro para qualquer observador minimamente atento que o
discurso de Jorge Jesus tem vindo a mudar gradualmente, embora nos últimos
tempos com mais intensidade, no sentido de fazer prevalecer o individual sobre
o colectivo, a individualidade sobre a instituição.
Uma coisa que todos os praticantes de futebol imediatamente
percebem ou que logo lhes ensinam, o mesmo se passando com todas demais pessoas
que fazem parte do mundo do futebol, seja no plano técnico, directivo ou outro,
é que o futebol é um desporto colectivo, no qual o colectivo, a equipa está acima
de qualquer individualidade.
Mesmo quando os grandes atletas ou os técnicos famosos não pensam assim, como é o caso de Ronaldo ou de Mourinho, eles
sentem-se obrigados a dizer, hipocritamente, o contrário e a repetir essa ladainha,
mesmo quando toda a gente percebe que eles pensam exactamente do que estão a dizer.
Pois bem, Jesus, no que respeita à sua pessoa e à equipa, tem vindo ultimamente a infringir essa regra
de forma cada vez mais ostensiva, sendo caso para perguntar o que poderá estar na raiz de tal mudança. Por que razão a primeira pessoa do singular tem vindo a substituir quase completamente a primeira do plural? Quem o ouve, se não o conhecer, até pode pensar que se trata de um qualquer prarticante de uma modalidade de desporto individual...
Verdadeiramente só Jesus poderá, se souber, responder a esta pergunta.
Todavia, nenhum de nós está proibido de tentar perceber o seu comportamento. De
encontrar para ele uma justificação racional.
Jesus tem no Benfica um contrato invejável. Tão invejável que
até Ulrich do BPI o inveja! Poucos são no mundo do futebol os treinadores que
ganham mais do que ele. Provavelmente não chegam a uma dezena. Claro que Jesus
teria todo o interesse em melhorar ou, no mínimo, em manter o ordenado que hoje
tem. Mas ele sabe que nenhum clube em Portugal lhe poderá continuar a pagar o mesmo. Nem o Benfica.
Só no estrangeiro um grande e rico clube o poderia fazer. Mas para isso Jesus
teria de ter méritos reconhecidos ao mais alto nível, que não tem, e ser dotado de uma capacidade
comunicacional que manifestamente lhe falta, mais a mais numa língua
estrangeira.
Portanto, o mais provável é que Jesus pense que, não podendo
subir ou sequer manter o ordenado, o mais vantajoso para ele seria rumar para
um clube onde o êxito desportivo fosse mais fácil de alcançar do que no
Benfica. A partir daí até novos voos se tornariam mais fáceis no futuro.
Esse clube em Portugal só pode ser o F C Porto. Nota-se que
Jesus, pelo menos desde o jogo na Luz, tem tratado o Porto com grande
respeito e compreensão, mesmo quando atacado em termos técnicos pelo seu actual treinador do Porto, Victor
Pereira. Aliás, as duas coisas estão ligadas: Victor Pereira é manifestamente
um treinador nervoso, inseguro, apesar da excelente prova que a sua equipa está
a fazer. Até já diz que o que lhe interessa são os títulos, pois ganhando não
lhe falta emprego em qualquer lado. Tudo isto em jeito de remoque por ainda não
lhe ter sido proposta a renovação do contrato.
Pode até ser que se enganem ambos, mas o que neste momento parece
é que nem Jesus ficará no Benfica nem Victor Pereira continuará no Porto. O Porto já
no passado mostrou interesse em contratar Jesus, mas como não foi
suficientemente concludente na hora da abordagem, ele acabou por preferir o
certo ao incerto. É natural que Pinto da Costa não se importasse de ficar com
Jesus, talvez até mais pelo prazer que lhe dava privar o rival do seu
treinador, do que pela falta de alternativas. De facto, tanto o Porto como o
Benfica têm outras boas alternativas em Portugal a Victor Pereira e a Jorge
Jesus…
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