O PORTO MAIS UMA VEZ; OS PROTESTOS DO SPORTING; E AS FALSAS SOLUÇÕES...
Já voltaremos ao Sporting e às suas propostas. Antes, porém, interessa analisar o que se passou no Porto-Gil Vicente. Uma vergonha, é o mínimo que se poderá dizer. Logo aos quatro minutos Otamendi deveria ter sido expulso por ter derrubado, isolado, o avançado do Gil que corria em direcção à baliza do Porto. O árbitro resolveu o assunto, marcando penalty e admoestando o defesa do Porto com um simples cartão amarelo.
Poucos minutos depois, Hulk, mais uma vez, caiu na área, sem ninguém lhe tocar, numa simulação grosseira que o árbitro sancionou com uma grande penalidade contra o Gil Vicente. Um escândalo! Se isto continua assim mais vale acabar já com o campeonato e encarregar o presidente da comissão de arbitragem de entregar o título ao Porto. Recuperando o vernáculo de Eduardo Catroga, o mais que se pode dizer é quem tocar em Hulk, dentro da área, com um “pentelho” sofre grande penalidade.
Mas há mais: um pouco mais tarde, num cruzamento, um avançado do Gil Vicente é, dentro da área, positivamente abalroado por um defesa do Porto e o árbitro nada marca. O mesmo que em Guimarães, ou seja, o costume.
Voltando às críticas do Sporting. A principal crítica que se pode fazer às queixas do Sporting é a falta de credibilidade. Nunca, mesmo nos casos mais escandalosos, os comentadores do Sporting na TV reconheceram um erro de arbitragem que os favorecesse, salvo quando o lance já não tinha qualquer interesse para o desfecho do encontro. Com os dirigentes, nestes últimos anos, passou-se exactamente o mesmo. Por isso, há todas as razões para supor que aquilo que o Sporting pretende é pressionar a arbitragem, para que esta passe a apitar em seu favor.
Quanto às propostas destinadas a assegurar a verdade desportiva, é preciso perceber muito bem o que se pretende. À semelhança do que se passa com as propostas de Rui Santos, também não se percebe muito bem o que é que o Sporting quer. O assunto já foi abordado neste blogue, mas vale a pena voltar a ele.
Em primeiro lugar, tudo o que se destine a assegurar a transparência da arbitragem é de louvar: critérios de nomeação dos árbitros; conhecimento público dos relatórios e classificações; criação de uma instância de recurso constituída por pessoas idóneas, nomeadas à margem dos clubes, para decidir, no máximo, em três dias, sobre a classificação atribuída ao árbitro e outras medidas no mesmo sentido serão bem-vindas e devem ser apoiadas por quem realmente preza a verdade desportiva.
Já quanto ao que se passa dentro do campo, relativamente às decisões do árbitro e quanto à possibilidade de recorrer a meios externos, é preciso compreender muito bem o que se pretende.
As leis que regem o futebol, como quaisquer outras leis, para serem aplicadas carecem de interpretação. E por mais rígidos que sejam os critérios que o intérprete está obrigado a seguir, resta sempre na interpretação de qualquer norma uma margem de irredutível subjectividade, tanto maior quanto mais difícil for a definição dos conceitos utilizados na sua redacção. Raros são os casos em que a aplicação de uma norma resulta de uma interpretação unívoca. Isso só acontece quando usam grandezas matemáticas (a barreira tem de estar a colocada a x metros da bola) ou outros casos semelhantes (por exemplo, é golo quando a bola ultrapassa por inteiro a linha da baliza ou, a regra de fora de jogo, nos casos em que a bola provenha de um companheiro de equipa ou ainda nos casos de a bola ter ou não ter saído das linhas de jogo). Nos demais casos há sempre lugar a uma avaliação, que se não for feita pelo árbitro vai ter de ser feita por alguém em seu lugar.
Portanto, o que é preciso perceber é se o Sporting pretende que a arbitragem recorra às ditas novas tecnologias em todos os casos ou apenas naqueles em que a aplicação da norma resulta de uma interpretação unívoca, isto é, uma interpretação que não varia em função de quem a faz, ou, de uma forma mais simples, nos casos em que o que está em jogo é uma simples declaração de ciência e não uma valoração.
Postas as coisas nestes termos, que são os únicos em que correctamente a questão se pode pôr, não deveria haver qualquer objecção ao recurso a esses novos meios nos casos em que o que está em jogo é uma simples declaração de ciência: a bola entrou ou não entrou; saiu ou não saiu; a barreira estava ou não estava à distância regulamentar; foi ou não foi off-side (embora neste caso apenas se houver meios tecnicamente fiáveis; de outro modo presta-se a batota).
Nos demais casos é absolutamente contrário à natureza do futebol criar uma instância de recurso susceptível de modificar a decisão do árbitro. É da essência do futebol que o árbitro decida em última instância, sem prejuízo obviamente do protesto por erro técnico. Se nestes casos se recorresse às novas tecnologias o que na prática se estava a fazer era a substituir a avaliação do árbitro pela avaliação de uma outra entidade estranha ao terreno de jogo. O futebol não é isso.
As arbitragens competentes e as arbitragens sérias têm de ser alcançadas por outras vias.
2 comentários:
vá ver o que se passa na NBA e nos demais desportos norte americanos e depois fale ....
o clube que mais benefícios teve da arbitragem nos últimos anos? vê lá se tiras os óculos vermelhos. não tens credibilidade para vir falar da credibilidade dos outros.
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