sábado, 3 de março de 2012

O BENFICA PORTO REVISTO A FRIO

ANÁLISE DA DERROTA DO BENFICA
Dragões vencem na Luz e isolam-se na liderança


Quem reviu ou puder rever todo o jogo, de princípio a fim, inclusive as imagens iniciais da entrada das equipas em campo, não pode deixar de notar que o semblante dos jogadores do Benfica era de grande apreensão. Contraídos, com um rictus facial tenso denotador de preocupação excessiva. Não era excesso de concentração, nem sequer concentração devida, era muito mais o espelho de uma excessiva preocupação que disfarçava falta de confiança.

O mesmo se diga do treinador jorge Jesus que manteve praticamente desde início essa mesma atitude. A sua tradicional exuberância gesticular foi substituída, salvo em duas ocasiões, por um indisfarçável receio do que poderia vir a acontecer.

Contrariamente a Vítor Pereira que manteve do princípio ao fim do jogo, mesmo quando estava a perder, uma concentração confiante e optimista que se lhe via no rosto. O mesmo se pode dizer dos jogadores do Porto que nunca demonstraram nas imagens iniciais, nem depois, qualquer tipo de falsa concentração que os inibisse de jogar para ganhar. Com excepção de Rolando e Maicon, talvez por saberem que têm o lugar em risco ou que estão permanente sob exame, todos os demais abordaram o jogo com grande confiança – uma confiança que esta época lhes tem por vezes faltado contra equipas incomparavelmente mais fracas.

Esta diferente atitude psicológica dos dois treinadores é decisiva para o estado de espírito das respectivas equipas. Prova de que Jesus estava com medo são as estúpidas considerações que na véspera do jogo teceu sobre os reforços de Inverno do Porto. São próprias de um homem que está sob tão forte pressão, da qual não consegue libertar-se, que sente necessidade de procurar escapes noutros domínios por mais tontos e sem sentido que esses domínios sejam.

Jesus é num certo sentido uma personalidade bipolar: oscila entre fases de despropositado triunfalismo que o torna eufórico e arrogante e outras de profunda depressão, como ontem à noite, por ele tão difíceis de as aceitar quanto por mais incompreensíveis as tem.

É claro que isto se transmite à equipa. Ou seja, ele não sabe nem é capaz de transmitir à equipa o estado de espírito de que ela necessita em cada momento. Transmite-lhe euforia quando deveria proporcionar-lhe contenção e responsabilidade competitiva e propaga-lhe depressão e receio quando lhe deveria induzir confiança e certeza na vitória.

Dito isto, a primeira conclusão que se retira, depois de revisto, a frio, o jogo, é a de que o Porto ganhou bem. Foi quase sempre a melhor equipa em campo. Mais perigosa, mais confiante e mais criativa.

A segunda conclusão é a de que uma das causas da vitória do Porto está na sua muito melhor condição física. Quem está de fora não sabe se a condição física provém da confiança ou se é a confiança que resulta da condição física. Mas do que não pode haver dúvidas é que o Porto esteve sempre muito melhor fisicamente do que o Benfica. Tal como o ano passado, o Benfica estourou no momento crucial da época.

Há jogadores no Benfica que estão num estado deplorável e que, por isso, não deveriam ter jogado. Um deles é Luisão que não podia com as pernas. Não se pode exigir a um jogador com a sua compleição física que esteja a cem por cento num decisivo Benfica-Porto quando um dia ou dois antes do jogo andou em viagens e em concentração da selecção do Brasil. Garay, embora com outra capacidade física, também se ressentiu. Gaitan não joga nada há vários jogos e Jesus insiste em pô-lo a jogar. Porquê? Mistérios … que deveriam ser desvendados. Tanto mais que Gaitan, mesmo em forma, não tem futebol para mais de uma hora. Javi Garcia regressou, mas jogou mais com o físico de com os pés …na bola. Witsel, apesar da sua juventude, também se ressentiu do jogo de quarta-feira bem com Maxi, embora este menos. Artur, aparentemente mal batido no primeiro golo – um grande golo a mais de cem à hora – esteve muito mal no terceiro golo. Artur tem dado muitos pontos ao Benfica durante a época, mas quando os benfiquistas precisavam que ele fosse apenas regular tem estado aquém das necessidades. Rodrigo, por último,  nunca mais foi o mesmo depois da pancada que Bruno Alves lhe deu em S. Petersburgo.

Os jogadores do Porto, pelo contrário, mesmo os que jogaram na quarta-feira ou na terça fizeram todos um grande jogo com destaque para o incomparável James Rodriguez, uma pérola.

E isto demonstra também que mais uma vez a esperteza saloia de Jesus se virou contra ele. A marcação do jogo para sexta-feira acabou por ser fatal para o Benfica.

Finalmente o árbitro. É verdade que Pedro Proença fez várias "sacanices" como de resto tem feito na dezena de jogos em que já apitou as duas equipas sempre com prejuízo para o Benfica. O Benfica deveria ter recusado o árbitro quaisquer que fossem as consequências. Nem que perdesse o jogo na secretaria. Por uma razão muito simples: é que tanto o Benfica como Proença estão profundamente condicionados um pelo outro. Falar no fim não adianta nada.

Os erros inadmissíveis da equipa de arbitragem estão na validação do terceiro golo do Porto – de facto, só não viu quem não quis – e na expulsão de Emerson. Inacreditável! Nenhum dos cartões é devido. Nem mesmo o segundo. A jogada, apesar de faltosa, não é violenta nem prometedora, já que um segundo jogador do Benfica ficaria ou cortaria a bola logo a seguir. Foi uma expulsão maldosa e intencional de Proença. Mas há mais: na primeira parte cortou, com base numa pretensa falta de Witsel sobre Moutinho, um contra-ataque perigoso do Benfica enquanto na segunda, numa jogada exactamente igual, desta vez contacto de Maicon sobre Witsel, deixou jogar, dela resultando o segundo golo do Porto.

Os demais lances de decisão complicada - mão na área de um defesa portista no remate que antecedeu o primeiro golo de Cardozo; mão de Maicon dentra da área em dispauta de bola com Nolito; braço de Cardozo na área do Benfica - são aceitáveis nos termos em que foram decididos.

Disciplinarmente, Maxi deveria ter sido punido no fim do jogo e Maicon e Gaitan a meio da segunda parte, aliás, na sequência de uma jogada em que deveria ter sido marcado falta, sobre a área do Porto, por entrada de Maicon à bola e às pernas do argentino . 
Uma coisa é porém certa: com ou sem as ”sacanices”de Proença, o Porto, jogando como jogou, teria sido sempre melhor do que o Benfica, tivesse ou não ganho.

Para o Benfica o pior está para vir. Um descalabro como o do ano passado é perfeitamente possível. E não parece que Jesus esteja à altura de o evitar…

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