QUEBROU-SE A LEI DA
MORDAÇA
Toda a gente sabe que a maior parte da malta da bola –
jogadores, treinadores, dirigentes, jornalistas – não sabe dizer nada de jeito
fora do futebol. Claro que há excepções, mas são poucas.
Quando se trata da selecção nacional, nomeadamente antes dos
jogos, quase ninguém ousa dizer o que quer que seja. Ou porque falar
desestabiliza os jogadores, tratados como verdadeiros atrasados mentais, ou porque
quem sabe é o treinador, ou ainda porque só quem está dentro é que percebe.
Alguns comentários são tão patetas, que se alguém em qualquer
outra actividade dissesse coisas semelhantes seria imediatamente apodado de “atrasado
mental”. No futebol, porém, é normal.
Mas há ainda pior. Está estabelecido, por uma espécie de
norma não escrita, que a selecção não se critica…pelo menos antes de jogar. Depois,
se as coisas correrem mal, passa-se o que se sabe. Basta recordar, falando
apenas das situações mais próximas, o que se passou depois do Mundial de 2000 e
até do Mundial da África do Sul, quando é óbvio que se muitas das coisas que já
se sabia existirem tivessem sido faladas directamente e sem rodeios muito
provavelmente não se teriam passado onde mais importante era que não tivessem
acontecido.
As palavras de Manuel José tiveram o condão de abrir uma
porta que há muito estava fechada. E, perante elas, as várias pessoas tiveram
que se posicionar. E lá vieram os patetas do costume com a ladainha habitual.
Mas também houve quem abertamente se tenha posto ao lado de MJ, quer
secundando-o nas suas críticas (David Borges, por exemplo) quer
reconhecendo-lhe toda a legitimidade para fazer o que fez (Carlos Daniel). Aliás, esta noite MJ voltou a falar na RTP Informação e explicou muito bem tudo o que antes já tinha dito. E ainda teve tempo de elegantemente se referir à "borrada" de Ronaldo na Presidência da República, sem sequer necessitar de lhe citar o nome.
É a democracia a avançar numa das áreas mais opacas das
modernas sociedades democráticas. Tanto mais opaca quanto menos consciência
cívica houver na respectiva sociedade. De facto, seria inacreditável que os “mandões”
do futebol continuassem a reclamar para eles um estatuto que hoje já ninguém
tem.
Sem comentários:
Enviar um comentário