quinta-feira, 7 de junho de 2012

AINDA A OPORTUNIDADE DAS DECLARAÇÕES DE MANUEL JOSÉ




QUEBROU-SE A LEI DA MORDAÇA



Toda a gente sabe que a maior parte da malta da bola – jogadores, treinadores, dirigentes, jornalistas – não sabe dizer nada de jeito fora do futebol. Claro que há excepções, mas são poucas.

Quando se trata da selecção nacional, nomeadamente antes dos jogos, quase ninguém ousa dizer o que quer que seja. Ou porque falar desestabiliza os jogadores, tratados como verdadeiros atrasados mentais, ou porque quem sabe é o treinador, ou ainda porque só quem está dentro é que percebe.

Alguns comentários são tão patetas, que se alguém em qualquer outra actividade dissesse coisas semelhantes seria imediatamente apodado de “atrasado mental”. No futebol, porém, é normal.

Mas há ainda pior. Está estabelecido, por uma espécie de norma não escrita, que a selecção não se critica…pelo menos antes de jogar. Depois, se as coisas correrem mal, passa-se o que se sabe. Basta recordar, falando apenas das situações mais próximas, o que se passou depois do Mundial de 2000 e até do Mundial da África do Sul, quando é óbvio que se muitas das coisas que já se sabia existirem tivessem sido faladas directamente e sem rodeios muito provavelmente não se teriam passado onde mais importante era que não tivessem acontecido.

As palavras de Manuel José tiveram o condão de abrir uma porta que há muito estava fechada. E, perante elas, as várias pessoas tiveram que se posicionar. E lá vieram os patetas do costume com a ladainha habitual. Mas também houve quem abertamente se tenha posto ao lado de MJ, quer secundando-o nas suas críticas (David Borges, por exemplo) quer reconhecendo-lhe toda a legitimidade para fazer o que fez (Carlos Daniel). Aliás, esta noite MJ voltou a falar na RTP Informação e explicou muito bem tudo o que antes já tinha dito. E ainda teve tempo de elegantemente se referir à "borrada" de Ronaldo na Presidência da República, sem sequer necessitar de lhe citar o nome.

É a democracia a avançar numa das áreas mais opacas das modernas sociedades democráticas. Tanto mais opaca quanto menos consciência cívica houver na respectiva sociedade. De facto, seria inacreditável que os “mandões” do futebol continuassem a reclamar para eles um estatuto que hoje já ninguém tem.

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