quinta-feira, 7 de junho de 2012

O COMENTÁRIO DESPORTIVO E A SELECÇÃO NACIONAL



AINDA O CASO "VÍTOR BAÍA"




No comentário desportivo desta semana ocupou um lugar de destaque a explicação que Scolari deu à RTP sobre a não convocação de Vítor Baia na entrevista que lhe concedeu no Brasil.

Apesar de o assunto ter hoje um interesse meramente histórico, não deixa de ser interessante o modo como foi interpretada pelos diversos comentadores.

Os comentadores afectos ao FCP não aduziram nada de novo relativamente àquilo que ao longo dos anos foram dizendo, mantendo um consistente e inalterável ódio a tudo o que venha de Scolari. Não só negaram que Pinto da Costa e Mourinho tivessem dado uma informação negativa de Vítor Baía, do ponto de vista da personalidade e da sua influência no balneário, como inclusivamente desmentiram um facto que é do conhecimento público e que o próprio Vítor Baía confirmou: o encontro de ambos com Scolari no Restelo em 2003!

A verdade é que, tendo o Scolari convocado sempre tantos elementos do Porto, fica sem explicação, na interpretação que aqueles comentadores fazem do facto, a não convocatória de Vítor Baía. Enfim, a irracionalidade como norma de pensamento.

Do lado dos comentadores afectos ao Benfica, as interpretações não são mais consistentes e deixam no ar a certeza, e não a simples impressão, de que não se aperceberam verdadeiramente das vantagens que para o futebol português teve a liderança de Scolari na selecção nacional. Ao comentador da SIC N só lhe interessava sublinhar que o presidente do Porto tinha influenciado a composição da selecção nacional pelo efeito directo que as suas palavras tiveram nas convocatórias de Scolari relativamente a Vítor Baía. Para tentar explicar o comportamento posterior de Scolari teve de recorrer à ideia de que aquela influência aconteceu num momento de fraqueza. Com franqueza, é preciso uma dose cavalar de benevolência para não adjectivar este raciocínio. Assim, o Benfica não vai lá. Já quanto ao comentador da TVI 24 nem adianta falar. Conhecido nas paredes do Estádio da Luz como lambe-botas, tudo o que ele possa dizer não tem para efeitos de Benfica qualquer importância. A música dele é outra. Uma música que os benfiquistas parece finalmente terem começado a não querer ouvir…

Acabou por ser Dias Ferreira, honra lhe seja feita, que sempre percebeu a importância de Scolari no futebol português, que acabou por dar a única explicação plausível…e óbvia.

Scolari, quando chegou a Portugal, não conhecendo nada e estando em geral rodeado por pessoas que ele não conhecia (salvo Murtosa, evidentemente), quis contactar os presidentes dos clubes e os treinadores das principais equipas, não para ser mandado ou influenciado por eles, para os compreender e ouvir o que eles tinham a dizer-lhe sobre a selecção. E é nesse contexto que falou com Pinto da Costa e Mourinho no Restelo. Ao contar o episódio da forma como o contou, Scolari não quis dizer que tivesse sido influenciado por Pinto da Costa ou por Mourinho, o que quis dizer foi que até Pinto da Costa e Mourinho entendiam que Vítor Baía era um elemento prejudicial ao grupo de trabalho. Mais tarde, como hoje se sabe, os dirigentes e treinador do Porto, obrigados a recuperar Vítor Baía, por Nuno Espírito Santo não estar a agradar a Mourinho, mudaram de opinião e passaram a exigir o que antes aconselharam a não fazer!

Acontece que Scolari foi também informado por gente do futebol, nomeadamente gente ligada à selecção, que Vítor Baía era um elemento preponderante no balneário, mas também desestabilizador. E contaram o que se passou no Mundial de 2002, a indisciplina e ainda o facto de as eliminatórias terem sido jogadas primeiramente por Quim e depois por Ricardo, acabando Vítor Baia, saído de uma lesão e convocado à última hora, por ocupar o lugar sem que nada o justificasse, tanto mais que nem sequer tinha jogado a maior parte dos jogos pelo seu clube.

Enfim, tudo o que se passou em 2002 exigia alguma limpeza e a constituição de um grupo novo. Scolari deixou ficar quem, do seu ponto de vista, não comprometia a coesão do grupo e a sua liderança e dispensou quem, pelas informações que tinha ,não estava à altura desse compromisso.

Além de que, Scolari jogou um amigável contra Portugal para a preparação do mundial de 2002, e gostou da exibição do guarda-redes português. Esse guarda-redes era Ricardo! E, como se viu, Vítor Baía acabou por não fazer falta. O público gostou da decisão de Scolari e por isso o defendeu e apoiou até ao último dia.

Sem comentários: