O QUE PODERIA VITOR BAÍA
DIZER?
Vítor Baía para lá de toda a mediática idolatria que a
nomemklatura do FCP faz questão de lhe tributar, tem tido uma relação atribulada com o
clube onde mais jogou e onde se tornou famoso.
Primeiro que tudo, e para grande mágoa sua, foi a proibição
de participar num dos campeonatos em que Portugal se sagrou campeão mundial de juniores
por “imposição” do clube, que dele necessitava para jogar na equipa principal.
E por aqui se vê como as coisas já se passavam em matéria de selecção no início
dos longínquos anos 90. Quem tinha e quem não tinha influência da selecção.
Depois foi a transferência para o Barcelona, que o FCP tentou
contra a vontade de Baía evitar, acabando por a realizar por um preço
inacreditável à época para um guarda-redes. Infelizmente, as coisas correram
mal a Baía. Independentemente dos títulos que conquistou, foi lá, em Camp Nou,
que sofreu as maiores humilhações da sua carreira. Por mais de uma vez um
estádio em peso assobiava todas as suas intervenções, quaisquer que elas
fossem. E algumas foram anormalmente más para a categoria de um guarda-redes
como Vítor Baía. Estava-se na época da “maldição” dos guarda-redes do
Barcelona. Não era de facto nada fácil substituir Zubizarreta.
Desmoralizado, Baía regressou ao Porto. E o FCP é um daqueles
clubes, como Vítor Baía bem sabe, onde tudo se “paga”. A fidelidade ao clube, mas também as “traições” e as “recuperações”
das carreiras aparentemente comprometidas. Para azar de Baía ele lesionou-se e
esteve largo tempo inactivo. Até que chegou Mourinho que ele já conhecia do
tempo de Bobby Robson - no tempo, como diz Santana Lopes, em que Mourinho andava
com o "saco das bolas" às costas.
Tendo em conta o passado recente de Mourinho no clube, como “tradutor”
de Robson, e a sua então reduzida dimensão na estrutura da equipa técnica, Baía
supôs que poderia ombrear com Mourinho treinador, alguém que ele até tratava
por tu. E houve desentendimento grave. Toda a gente tem disso conhecimento: não
foi Scolari que inventou; Mourinho chegou a falar no assunto publicamente.
Depois de adequado castigo, Baía, vindo de uma fase decepcionante da sua carreira e tendo consciência de que estava a
perder a “parada”, recuou, pediu desculpa e tudo aparentemente se recompôs. Como
os sócios e os adeptos continuavam a idolatrar Baía, Pinto da Costa cavalgou
essa onda, tanto mais que a subida de forma de Baía em fim de carreira só
traria vantagens – e muitas –, como trouxe, à equipa.
Durante esses anos de fim de carreira de Baía, Pinto da Costa, com aquela convicção que ele sabe transmitir, apoiou-o como símbolo
do clube e como jogador. As regras estavam bem estabelecidas para que pudesse
haver dúvidas quanto ao comportamento a seguir. E Baía aparentemente não as teve
tanto assim que aceitou uma passagem tranquila para o banco, dando lugar a uma jovem
promessa que entretanto havia surgido.
Terminada a carreira ficou no FC Porto num lugar semelhante
ao que agora ocupa Fernando Gomes (outro recuperado por Pinto da Costa) até que com a
vinda de Villas-Boas foi despedido. Que ligação havia entre ele e Villas-Boas
no tempo de Mourinho é coisa que só dentro do clube sabem.
Já fora de funções, Baía queixa-se de que não lhe estão a prestar no FC
Porto o reconhecimento que uma antiga glória como ele merecia. É o ressentimento a vir
novamente à superfície. E, pecado dos pecados, diz publicamente que se tivesse
sido jogador do Benfica teria tido seguramente outro reconhecimento nacional,
dentro e fora do próprio clube. Lamenta muito que no Porto as coisas não se passem
assim.
Esta declaração foi fatal. A confiança, que já não era muita,
voltou a quebrar-se. O que se terá passado com Baía só ele o saberá. O Porto é
uma cidade pequena e tudo quanto esteja directa ou indirectamente ligado ao
futebol é dominado pelo FCP. Tudo. Baía que já tinha obrigação de saber isto,
voltou a aprender à sua custa. E eis que agora lá vem ele dizer que as palavras
de Scolari são falsas já que ninguém de dentro do clube iria pôr em causa a sua
participação na selecção nacional, tanto mais que ele tem no presidente do FCP
um grande “amigo” sem reservas.
Pois, Baía lá sabe…
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