quinta-feira, 28 de junho de 2012

O FUTEBOL E A CRÍTICA






A PROPÓSITO DOS PENALTIES E DE OUTRAS OPÇÕES



O futebol dá-se muito mal com a crítica. Pelo menos, em Portugal é assim. É verdade que poucas pessoas gostarão de ser criticadas qualquer que seja o ramo de actividade a que se dediquem sempre que a crítica ponha em causa o que por elas foi feito. Se a crítica é elogiosa a situação muda por completo. De rejeitada a crítica passa a ser citada. Alguns outros estabelecem uma distinção entre crítica construtiva ou destrutiva. A primeira teria em vista ajudar a fazer melhor e seria ditada pela única preocupação de aferir o objecto da crítica com o paradigma perfilhado pelo crítico. Já a destrutiva teria como única finalidade dizer mal, pôr em causa o que está sendo feito pelos outros e seria ditada pela baixa formação moral do crítico.

É claro que tudo isto não passa de conversa. A crítica é uma actividade fundamental e imprescindível em qualquer sociedade democrática, tendo apenas – e este apenas é tudo – a sua validade que aferir-se pelo seu valor intrínseco. Não é necessário que crítico e criticado perfilhem os mesmos valores ou que o crítico saiba fazer o que ao criticado critica. O que é imprescindível é que a crítica seja técnica e valorativamente sustentável.

E o que se passa numa sociedade como a nossa é que, apesar de os criticados em regra não gostarem da crítica, vêem-se na maior parte das vezes obrigados a tê-la em conta e a responder-lhe. Passa-se assim antes de mais na política. Raramente na política os criticados concordarão com a crítica que fazem às suas opções, mas isso não significa que não saiam a terreiro a defender as suas posições. Passa-se assim também nas actividades profissionais mais ou menos especializadas. O criticado responde à crítica e defende o seu ponto de vista. Igualmente assim se procede nas artes. O artista, apesar de não gostar nada da crítica que ponha em causa a sua obra ou alguns aspectos dela, não pode fazer de conta que a crítica não existe e, embora contrariado, vê-se obrigado a responder-lhe. Até em questões da vida pessoal todos nós nos vemos obrigados a responder à crítica quando ela vem de pessoas com quem estamos estreitamente relacionados.

Mas há em Portugal uma excepção a tudo isto. É o futebol. No futebol, principalmente a crítica feita aos técnicos, nunca tem resposta. O conteúdo da crítica nunca tem. E se em vez de uma equipa de clube se tratar da selecção, então as coisas ainda agravam-se mais. A resposta, quando existe, nunca está relacionada com aquilo que se disse mas com o facto de se ter dito aquilo. A resposta nunca incide sobre o conteúdo da crítica mas sobre a própria crítica. E sempre com insinuações e adjectivações estúpidas.

O técnico de futebol é alguém que está acima de toda a crítica. A sua imensa sabedoria só encontra paralelo na sua incomensurável arrogância.

Basta ver o que se passou recentemente com Paulo Bento para não haver qualquer espécie de dúvida sobre a arrogância com que na selecção as críticas foram tidas em conta. Já antes se tinha passado assim com Queiroz e o mesmo se passa nos clubes, por exemplo, com Jesus ou com José Mourinho, o mais arrogante de todos. E todavia – voltando à selecção – Paulo Bento tem muito que explicar. Explicar, a propósito os penalties, por que pôs Ronaldo a marcar o último, opção criticada por toda a imprensa internacional, por que incluiu Moutinho na lista dos marcadores, sabendo, como não poderia deixar de saber, o historial de Moutinho nessa matéria? Por que utilizou tão pouco Varela, apesar das boas provas que deu sempre que foi chamado, quando se estava a ver pela repetição dos jogos que de Nani nunca iria sair nada de excepcional? Por que convocou Hugo Viana e Ruben Michaelis se nunca os pôs a jogar, para mais alinhando eles na zona de maior desgaste da equipa portuguesa? Por que não convocou jogadores com características mais parecidas com as dos três médios titulares se era esse o modelo de jogo em que ele acreditava? Por que deixou nos dois primeiros jogos – contra a Alemanha e a Dinamarca – que o corredor esquerdo da defesa portuguesa ficasse apenas entregue a Coentrão quando logo se percebeu que Ronaldo não marcava?

Seria interessante ouvir Paulo Bento sobre estas questões e outras certamente pertinentes para avaliar da consistência das suas opções. Seria muito mais interessante do que ouvi-lo mais uma vez a criticar a crítica, pelo simples facto de ter sido feita, esgrimido agora, como muito provavelmente fará, com a prestação global da equipa, género: “Chegamos com muito mérito às meias-finais e só fomos eliminados pelo campeão do mundo nas grandes penalidades”!

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