PORTUGAL CAIU NOS PENALTIES
A selecção portuguesa deu hoje em
Donetz uma grande lição sobre como se deve jogar contra a temível selecção
espanhola. Durante os noventa minutos regulamentares as poucas oportunidades de golo
repartiram-se por ambas as equipas. O jogo foi intenso e tacticamente bem jogado, dai que uma boa parte dele tenha sido jogado longe das respectivas balizas.
Da selecção espanhola sabia-se
tudo: guarda bola com ninguém; recupera-a pouco depois de a perder. Hoje não se passou
nada disso. Não conseguiu fazer circular a bola com a eficiência habitual, perdeu
muitos passes e teve muita dificuldade em a recuperar. Não deixou por isso de ser
uma grande equipa, mas a verdade é que não fez contra Portugal o jogo que conseguiu fazer contra outras
selecções. Nem nada que se pareça. A equipa portuguesa jogou de igual para igual.
Não dominou nem se deixou dominar apesar de estar ajogar contra uma grande
equipa.
Com um Cristiano Ronaldo mais
eficiente, embora fosse difícil sê-lo pela múltipla marcação a que esteva sujeito,
a selecção portuguesa poderia ter saído vitoriosa no fim dos noventa minutos.
No prolongamento a Espanha foi
superior. Portugal claudicou fisicamente e esteve à beira de perder não fosse uma
boa defesa de Rui Patrício. Ficou a sensação de que Paulo Bento demorou muito
tempo a mexer na equipa. É certo que a equipa estava a jogar bem, mas era óbvio que as
forças começavam a faltar. Principalmente no ataque e no meio campo. Na linha
média somente Moutinho se aguentou fisicamente. Tanto Veloso como Meireles davam
sinais de esgotamento. No ataque não foi somente Hugo Almeida, substituído aos
80 minutos ,que se ressentiu, também Nani e até Ronaldo.
Paulo Bento deveria ter
substituído mais cedo um médio e Nani. Fez mal ter deixado ficar Nani em campo
e não ter feito entrar Varela mais cedo.
Com a equipa já muito esgotada e
sem a força anímica com que terminou os 90 minutos iniciais antevia-se uma situação
difícil na decisão do jogo por grandes penalidades. A isso acresceu a escolha
errada de pelo menos um dos marcadores. Paulo Bento não sabe quantos penalties
Moutinho falhou no Sporting? Objectivamente era uma má escolha. O facto de ter realizado
uma boa exibição não significa que deva ser escolhido para marcar um dos cinco
primeiros penalties e muito menos o primeiro. Não se pode dizer que Moutinho que
tenha tido azar. Não, o penalty foi mesmo mal marcado. Azar teve Bruno Alves que quis
marcar um penalty indefensável e viu a bola bater na barra. Fica provado para
quem ainda o não soubesse que a decisão do jogo por este meio pressupõe técnica
e grande força psicológica. Não adianta ter uma sem a outra.
No que respeita às penalidades
marcadas pelos espanhóis bem terá andado Cristiano Ronaldo se disse a Rui
Patrício o que qualquer observador atento certamente saberia. Ou seja, que Xabi
Alonso marca sempre para a direita do guarda-redes, sendo portanto de presumir
que num jogo como o de hoje, com vários colegas de clube na equipa
adversária, escolhesse o lado esquerdo. Pena foi que ninguém tivesse dito a Rui
Patrício que das últimas duas vezes que Sérgio Ramos foi chamado a marcar
atirou a bola para as nuvens sendo, por isso ,também de presumir que hoje, tendo
sido escolhido, iria rematar de forma diferente. Por outras palavras, Rui
Patrício não se deveria ter mexido. Dizer isto agora é obviamente fácil, mas
dizê-lo antes de Sérgio Ramos ter marcado também foi. Estes os reparos que há a
fazer quanto às grandes penalidades.
Mas nada disto deslustra, nem
sequer as substituições tardias ou a até ausência delas, o excelente
comportamento da equipa portuguesa. Desde que começou a senda de jogos vitoriosos este foi sem dúvida um dos mais difíceis da selecção espanhola. Mérito, portanto, da selecção portuguesa.
Na equipa portuguesa o melhor em
campo foi sem dúvida Coentrão. Simplesmente excelente. Moutinho e Pepe também
jogaram muito bem, pena apenas que neste jogo Pepe tenha cometido mais faltas
do que nos quatro anteriores. Sabe-se como é com Pepe: percebe-se quando e
porque começa mas nunca se sabe como acaba. Bruno Alves e Pereira também
cumpriram exemplarmente. À linha média e à sua boa articulação com os demais
sectores da equipa se ficou a dever muito da grande exibição da equipa
portuguesa tanto na contenção da equipa espanhola como da explanação do seu jogo. No ataque Hugo Almeida dentro do
seu estilo esteve bem. Foi bem servido por Ronaldo por duas vezes, mas rematou
ao lado, e poderia também ter dado melhor direcção a um remate fontal. Nélson
Oliveira, embora cumprindo tacticamente, não trouxe vivacidade ao ataque.
Ronaldo jogou para a equipa, mas individualmente não esteve ao nível dos
últimos dois jogos. Falhou todos os livres e também não acertou com a baliza
nos dois ou três remates que fez. E este era um jogo para não falhar. Nani
esteve discreto, como de resto em quase todo o Europeu. Além de que não é um
jogador esclarecido. Deveria ter sido substituído mais cedo. Paulo Bento não
aproveitou o bom momento psicológico de Varela depois do golo contra a
Dinamarca e fez mal. Muito mal!
Na equipa espanhola o grande
maestro é hoje Iniesta. Mas o que nela não faltam são grandes jogadores. Tanto
os que jogam regularmente como os que estão no banco. Merecem passar à final
tanto como os portugueses o teriam merecido ao fim dos noventa minutos. No prolongamento e nos penalties prém a Espanha esteve melhor, sem que estar melhor signifique
ter sido hegemónica ou dominadora.
Portanto, acabado o jogo, já se
pode dizer que pelo lado português não haverá uma final inédita. Agora isso
depende apenas da Itália. Se passar a Itália, a Espanha vai ter mais dificuldades
do que terá se passar a Alemanha.
Sem comentários:
Enviar um comentário