UMA DERROTA CONTUNDENTE
No jogo de ontem no Estádio da Luz a selecção portuguesa de futebol perdeu por
3-1 contra a da Turquia. Antes de mais, é bom que se diga que a Turquia tem uma
equipa muito interessante com alguns excelentes jogadores não podendo por isso
afirmar-se que constitui uma grande surpresa a derrota da equipa portuguesa.
De facto, desde o Europeu de há quatro anos que a selecção
portuguesa vem perdendo valores sem que tenham aparecido jogadores em número
suficiente para substituir os que desde então foram saindo. Com excepção de
Fábio Coentrão e de Rui Patrício não houve dos muitos que depois daquela data
foram chamados à selecção qualquer outro grande nome a reter.
Esta falta de valores já foi muito notória no Mundial da
África do Sul, agravada pela pouca capacidade que Queiroz tinha para lidar com
a situação. E agora para o Euro 2012 está-se praticamente na mesma.
Paulo Bento que até começou bem por contraste com o que vinha
detrás foi perdendo pouco a pouco o crédito
com que começou, muito por causa de casos que foram surgindo com jogadores e
também por no "grande público" – e este em termos de selecção é que conta – se ter
perdido parcialmente a confiança nos critérios do seleccionador quanto aos
escolhidos.
O que se passou há dias em Leiria já foi um sintoma claro
desse estado de espírito do público, por mais que os comentadores e os jornalistas
do costume tentassem desvalorizá-lo. De facto, eles ainda não perceberam que
quem “manda” na selecção é o público por mais que os jornalistas tentem
influenciá-lo. Basta lembrar o que se passou com Scolari: hostilizado por
Mourinho, Pinto da Costa e todos os que nos media
lhes servem de câmara de ressonância – e são muitos! -, ele pôde contar sempre
com o apoio do público. Por uma razão muito simples: o público compreendia e
apoiava os seus critérios.
Não quer isto dizer que com Paulo Bento tenhamos regredido aos
tempos do Mundial de 2000 ou até mais para trás. Não é isso, mas regredimos.
No jogo de ontem à noite ainda não estamos seguros do que
terá sido mais grave: se a derrota, se o convencimento dos jogadores de que
jogaram bem. Se eles pensam que jogaram bem é porque ninguém no balneário lhes
disse que jogaram mal, que cometeram erros inadmissíveis e que se continuarem
assim não vão ter qualquer hipótese num grupo “triplo A”, como é aquele em que
estão integrados.
Mas vamos ao jogo, ao que se passou.
Na defesa a opção por Miguel em detrimento de João Pereira talvez
tenha sido a única boa notícia. Quanto ao resto, pelo que toca ao esquema
defensivo da equipa, tudo foi muito decepcionante: Bruno Alves está muito longe
de dar segurança à defesa e Fábio Coentrão parece que perdeu qualidades, tanto
a atacar como a defender, embora possa sempre de um momento para o outro
renascer. Todos cometeram erros, tendo sido Miguel Lopes o que menos errou. Rui
Patrício e Bruno Alves são responsáveis pelo primeiro golo, mas nenhum dos
outros três está isento de culpas. Coentrão chegou tarde, porque contava que os
outros chegassem primeiro, Miguel Lopes deixou-se ultrapassar e Pepe não fez a
dobra com eficácia como lhe competia. No segundo golo, Veloso repetiu o erro em
que já havia incorrido por mais de uma vez e Bruno Alves voltou a ser lento e
a passar mal uma bola que tinha recebido "à queima". No terceiro, Coentrão deixou
cruzar, Eduardo não defendeu para o melhor sítio, Pepe não foi capaz por duas
vezes de se desviar da bola ou de lhe dar a direcção devida e Ricardo Costa foi
atabalhoado. Tinha tempo e espaço para fazer melhor. Três golos, é muito golo!
Quem pode ganhar sofrendo tantos golos?
A linha média talvez ainda tenha jogado pior do que jogou
contra a Macedónia. Moutinho está sem ideias, Miguel Veloso é um perigo, como
se viu, e somente Meireles poderá dar alguma criatividade àquele meio campo.
Poderá, mas não tem dado. E sem meio campo criativo e neutralizador do jogo
alheio também não há equipa que se salve. E aqui, digam o que disserem, falta
mão do treinador. Se contra a Turquia faltou meio-campo, o que acontecerá
contra a Alemanha?
Na frente, tanto Hugo Almeida como Postiga não são jogadores
de selecção. Francamente, não adianta insistir. Nelson Oliveira, apesar da sua
juventude e inexperiência, ainda é a melhor opção. E se o seleccionador não tem
outras, é porque não fez as convocatórias que deveria ter feito.
Sobram os dois extremos ou médios ala, Ronaldo e Nani, que
sendo dos melhores jogadores da selecção, raramente jogam mais e melhor do que
jogaram ontem. Só quando toda a equipa engrena no jogo, o que já não acontece
há muito tempo, é que eles sobressaem. Fora destes casos, quando sobressaem é
pela negativa, como hoje aconteceu com Ronaldo que além de falhar um penalty, no momento crucial do jogo, já
tinha desperdiçado antes uma outra oportunidade de golo. E mais uma vez veio à
tona aquilo que aqui tantas vezes tem sido dito: o rendimento de Ronaldo
depende mais do rendimento da equipa do que a equipa dele. Em grandes equipas como
o Manchester United e o Real Madrid, Ronaldo joga incomparavelmente mais. Na
selecção portuguesa, as boas exibições que tem feito – e foram relativamente
raras – estão sempre muito relacionadas com o rendimento do conjunto. Por
outras palavras: não é Ronaldo que puxa pela equipa, é a equipa que puxa por
Ronaldo. Coisa que Scolari também tinha percebido muito bem desde o início. Sem
ferir susceptibilidades foi sempre dizendo isto à sua maneira, deixando para
Ronaldo o papel de ser apenas um entre onze e não alguém de quem o onze
dependia.
Perante isto, as perspectivas são as piores. Nada ainda está
perdido, mas está cada vez mais longe de poder ser ganho….
1 comentário:
Acabo de ler este artigo. Penso que todos tínhamos a mesma opinião depois desse jogo, mas felizmente a selecção surpreendeu pela positiva. Espero que apostem nos jovens portugueses para dar continuidade à selecção.
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